Extremo joana benedek

Estou escrevendo um terror psicológico e preciso muuuito de feedbacks

2024.04.18 19:50 kassyz Estou escrevendo um terror psicológico e preciso muuuito de feedbacks

CAPÍTULO 1 - MORGANA TERESA

Disciplina e obsessão não estão tão distantes assim uma da outra, ninguém sabe disso melhor do que eu. E eu tenho certeza
Existem sim alguns pontos positivos em ser cobrada ao extremo, eu mesma tenho certeza do meu sucesso, apesar de saber que não posso parar nem mesmo um segundo, a recompensa é logo ali e eu só consigo enxergar ela.
O primeiro passo para a disciplina é o seguinte:
Ninguém se mete entre você e o seu objetivo. Ninguém é mais importante do que o seu sucesso, você vira noites e noites acordada porque tem um objetivo, ninguém tem o direito de te distrair ou roubar seu lugar.
Isso é algo que me irrita, sabe? Mas lá no fundo, me motiva muito.
Eu estudo no internato Morgana Teresa para moças há uns cinco anos, e aqui é como um campo de batalha. Você não tem hobbies se seu hobbie não for útil para alcançar a nota mais alta da escola. O topo da cadeia alimentar é muito disputado e eu não tenho planos de deixar meu lugar para qualquer outra paspalha burra, desde que nasci me esforcei para ser a melhor em tudo, antes eu me esforçava por medo. Meu pai me dizia que ele não queria uma filha burra ou incompetente, não ligava mais para suas palavras cruéis ou seus castigos que talvez para quem não entenda possam parecer extremos. Não são. Na realidade, foi assim que aprendi a me tornar o que sou hoje.
O pior talvez tenha sido minha mãe. Geralmente são elas que defendem as filhas, mas mamãe sim foi cruel.
No meu primeiro ano no internato, Eugenia, a professora de francês, delatou aos meus pais que eu estava tendo dificuldades com algumas pronúncias. Naquele final de semana eu fui trancada no banheiro de visitas e só pude comer alguns petiscos quando acertava a pronúncia. Isso me fez atingir a fluência nos próximos sete meses de estudo, com excelência.
Chegando no internato, é possível sentir todos os pelos do seu corpo se eriçarem, o ar aqui não é bom. A competição é o que move todas as alunas, e as professoras nos sugam até a última gota de suor.
Quando cheguei aqui nesse ano reparei nos letreiros já velhos, era notável que precisavam de uma reforma, até porque algumas letras haviam caído.
Mor Te
P ra jovens moças da s i de
Seria assustador se não nos lembrássemos que antigamente costumávamos ter um letreiro de boas-vindas comum.
Morgana Teresa
Para jovens moças da sociedade
Com o tempo você se acostuma com o clima mórbido e obscuro do palacete, as paredes brancas e cinzas muito bem cuidadas, ao contrário da placa perto dos portões enormes de ferro, o chão de mármore reforçava que aqui o lugar não era para qualquer uma. Tudo era muito. Muito grande, muito vasto, muito exagerado, muito quieto.
—Você não aprende, não é? - escutei a velha alta e esquelética falar com Joana, a aluna mais recente matriculada aqui. —Quem foi que disse que vocês tem permissão para ir ao banheiro?
—Eu estava apertada, Clemente.
— Senhorita Cordova, Joana. Quem se importa com estar apertada? Já viu suas colegas irem ao banheiro durante a aula? — a garota negou com a cabeça, em silêncio. Quase pude sentir dó quando ela abaixou o olhar e suspirou, mas não sei se seria o correto, o tempo de aula é sagrado, afinal.
— Espero que isso não se repita. Caso você tenha três observações, sabe o que te aguarda. — Dito isso, a velha retomou sua posição em frente ao quadro. Seus cabelos estavam tão bem presos e rígidos num rabo de cavalo sem graça, que seu rosto também repuxava, dando a ela um infeliz semblante de relaxamento forçado. Sua voz era deprimente, mas sempre com um quê de autoridade, a considerava a menos qualificada dali.
Após o último sinal, recolhi tudo o que estava sob a mesa e me retirei da sala, ignorando qualquer uma que tentasse falar comigo, não ligava mais para os olhares que me lançavam. Certa vez ouvi de uma garota do sétimo ano que eu era mesquinha e maníaca, ela nem sequer me conhecia.
Meu tempo e rotina são organizados de acordo com o que minha tutora particular define. Se uma matéria for mais difícil, meus horários mudam, os remédios dobram para que eu possa manter o foco estudando mais e dormindo menos.
Essa semana dormi menos do que o comum, não que isso me incomode, recebi elogios da diretora quanto ao meu desempenho. Se não fossem os remédios, eu provavelmente estaria como as outras garotas, parecendo um zumbi perambulando com os uniformes azuis e cinza.
Continuei subindo as escadas meticulosamente limpas e brancas, nossos dormitórios estão no último andar, então a caminhada era um pouco mais extensa. Quando abri a porta do quarto que dividia com Denise, o que encontrei foi uma montoeira de roupas jogadas no chão e na cama dela, uma mala enorme aberta com um secador dentro. Essa garota me irritava não só pela bagunça e desorganização, mas ela era a única que sentia prazer em competir comigo, e o pior de tudo é que seu maior dom era de fingir que nada era proposital, a santa Denise, tenhamos todos esperanças de que seus olhos azuis e nariz perfeito nos agraciem com sua atenção.
Me poupe.
A garota era relaxada, dormia mais do que podia e esfregava na nossa cara o fato de que não precisava se esforçar como eu. Semana passada tive que dormir com ela tagarelando sobre o quão orgulhosos seus pais são dela, faz questão de me cutucar perguntando o porquê dos meus ligarem tão pouco para mim, ou nunca comparecerem em reuniões de confraternização entre pais importantes da sociedade.
“Eles são ocupados demais pra essa bobagem.” É tudo o que sempre respondo.
“Acho que eles não gostam muito de você, não é?” Ouvi seu sorriso discreto e o farfalhar do edredom caro do internato enquanto ela se virava pra dormir, satisfeita em me provocar.
Quando voltei dos meus devaneios ela já estava sentada, enrolada na toalha e penteando os cabelos desnecessariamente enormes e pretos, como se ninguém soubesse que ele era castanho claro e ela pintava a cada duas semanas.
—Vai passar o fim de semana aqui de novo, A? —
Odiava o modo como ela achava que tinha intimidade e me chamava pela letra inicial, como se fosse um apelidinho de amigas.
—Meu nome é Amalia. Não A.
—Perdão, A. — Riu nasalada, o deboche era tudo, menos invisível. Virou a cabeça e continuou penteando o cabelo, visto que já estava desembaraçado, mas ela era vaidosa. Gostava de mostrar como podia cuidar de tudo nela com a maior calma, que tinha tempo pra isso.
Ela parece estar sempre satisfeita, e eu não me conformo com isso. Eu passo noites acordada, estudando, arrancando fios de cabelo pra sentir minha cabeça mais leve, tomando remédios pra poder dizer que estou quimicamente calma, quando estou com mais medo de tudo de falhar. Enquanto ela só precisa de uma revisão, e só. Ela tem amigos, acho estranho a família dela não cobrar mais, eles não amam ela?
Não reparei que ela já estava pronta até o momento em que ela bateu a porta do quarto, só assim eu acordei e percebi que continuava em pé, igualzinha uma idiota.
Minha mãe já havia me dito que essa obsessão por Denise era ótima até certo ponto, porque talvez eu me inspirasse e me tornasse mais como ela. Foi pior do que os tapas que já havia recebido, isso fez com que eu odiasse ainda mais a garota.
Além do mais, não existia obsessão alguma, eu só detestava que pessoas como ela existissem.
Tranquei a porta aproveitando que estava sozinha e fui direto erguer o meu colchão, era onde eu escondia modafilina e alguns outros remédios que me ajudavam a render a produtividade e diminuir o sono, a única coisa que encontrei foi a caixa vazia de fluoxetina, vasculhei todo o espaço da cama, almofadas, e nada. Bolsas sem sinal dos remédios, o armário da mesma forma. Prendi a respiração por cinco segundos antes de pôr a mente em ordem e me lembrar que eu não precisava deles, o único que eu precisava para controlar a ansiedade tinha realmente acabado e logo meus pais enviariam outra caixa, ainda assim, era por tratamento, os outros eram só um estímulo para ter mais tempo pra estudar.
Eu tentava ao máximo manter tudo organizado, o dormitório era consideravelmente grande, até porque com a mensalidade cobrada para estarmos aqui, o espaço pelo menos deveria ser confortável. Como cada dormitório acolhia duas estudantes, cada lado tinha sua própria escrivaninha, tentava nunca reparar tanto na bagunça que Denise deixava na dela, mas era quase impossível ignorar. Celulares não eram permitidos aqui durante os dias de semana, então algumas coisas ficavam mais fáceis pelo fato de não ter tanta distração.
Não tinha nem mesmo tirado o uniforme antes de me sentar e revisar duas vezes tudo o que havia sido passado nas sete aulas que tínhamos tido, se o tempo não estivesse abafado, apesar da noite já ter caído, eu nem mesmo levantaria daqui antes da meia-noite. Meu nariz estava ardendo e eu sabia que essa era a hora de parar.
Soltei o cabelo e tirei a jaqueta, o banheiro da suíte nos fins de semana era só meu, então alguns bons vinte minutos de banho cairiam muito bem.
Eu gostava da água fervendo. Quente mesmo.
Gostava que o vapor enchesse o banheiro, embaçasse o box e o espelho, que as paredes ficassem úmidas, e eu não fugia dos pingos quentes, gostava que queimassem mesmo, isso sem dúvidas fazia com que minha pele não fosse tão hidratada quanto a das outras meninas, mas era o de menos. O ar quente que entrava era maravilhoso, gostava da sensação abafada causada dentro de mim.
Nesses momentos eu me permitia relaxar o máximo que conseguia. A cabeça estava sempre no maquinando, fritando e acelerando, mesmo nesses momentos mais tranquilos ela não cessava, ergui o rosto para o chuveiro e deixei a água quente cair o máximo que pude aguentar.
Já com o cabelo e o corpo limpo, o banheiro ainda estava nublado, então a minha visão no espelho era embaçada, mas era exatamente assim que me via. A sobrancelha grossa era a coisa mais vistosa, odiava o quão grandes e esbugalhados meus olhos escuros eram, puxei o cabelo para a frente, sobre os ombros, tentando entender se isso poderia mudar a minha imagem, mas eu continuava sempre a mesma, abri a boca e fiz barulhos aleatórios, só para me lembrar que ainda sabia falar, antes de voltar ao quarto e colocar o pijama caro que meu pai me deu quando consegui ganhar o primeiro lugar no campeonato de natação.
Claro que paguei um preço alto por isso, queria muito vencer por mérito próprio, mas infelizmente Jordana existe, é dois anos mais nova que eu, mas é um prodígio na natação.
Nada que ter esperado todas as outras meninas saírem do vestiário para deixá-la trancada durante a competição não resolvesse.
Ninguém descobriu, mas nas primeiras semanas a culpa me assombrou, acontece que eu fiz pelo meu bem, acho que é um bom motivo, para ganhar tudo é válido.
A noite no internato era sempre quieta demais, nada além dos pássaros rasgando o céu, às vezes era possível escutar o eco de alguma palmada, o som de algo pesado caindo com força no lago fundo perto do pátio, mas você acostuma.
O pior mesmo é o fantasma que ronda tudo isso aqui, e eu não estou falando de nada espiritual. Ninguém gosta de ninguém, nem mesmo os grupinhos formados por garotas, não adianta entrar aqui se enganando e achando que fará amizades, tudo aqui é competição. As professoras estão sempre tentando se sobressair, a falsidade é palpável em todos os âmbitos dessa porcaria.
Aos sábados a rotina era sempre a mesma.
Acordar antes do sol, meu relógio biológico já estava acostumado.
Roupa quente porque o frio é implacável no meio desse mato, e hipismo das seis horas da manhã até às oito.
Minha égua chamava-se Raiz, e é a única coisa a qual sou totalmente apegada, a única que me escuta de verdade e sem me julgar.
Quando voltava para dentro da escola, a entrada da minha tutora já havia sido liberada e estudávamos na biblioteca até às duas ou três, se estivéssemos perto de alguma prova, até às cinco horas da tarde, eu odiava a presença dela, inclusive, eu é quem deveria ser paga para orientá-la, mas meus pais achavam que eu não conseguia me virar sozinha então eu era obrigada a aceitar todas as suas explicações chulas e ignorantes com um sorriso falso e um acenar de cabeça.
— Você já pensou em dar um tempo?
Ergui o olhar para a garota de vinte e cinco anos na minha frente.
— Perdão?
— Você não para nunca? tipo, qual é. ‘Cê tem dezesseis anos e não tem vida.
— Acha que isso não é vida?
— Com certeza não, as garotinhas da sua idade a essas horas estão usando vestidos colados e bebendo martinis nessas baladas de gente rica.
— Não sou elas.
— Você acha que é melhor, eu sei. - Ela fingiu estar bocejando e revirando os olhos. — Cê só é sem graça mesmo.
— Se eu não fosse sem graça você provavelmente estaria morrendo de fome, ou se vendendo, não que você fosse odiar, né? Já que pra você ser só burra não é o suficiente, é obrigatório ser puta também. - O olhar dela refletia ódio, e isso por algum motivo alimentou minha satisfação.
— Terminamos por aqui. - Ela fez questão de pisar com força na minha bota de montaria, a dor no dedo não me incomodou, pelo contrário, eu havia atingido a loira. — Espero que valha muito a pena no seu futuro você ser tão focada. - E foi embora, com seu jeans desgastado e super skinny, a blusa de lã era nova, provavelmente comprada com o salário dos meus pais.
O dinheiro faz coisas.
Eu jamais me submeteria a essa posição humilhante, nunca aceitaria que falassem comigo como eu falei com ela. Mas ela precisa, o dinheiro que meus pais pagam a ela é suficiente para mantê-la bem e alimentada, não sei com quem ela mora, mas com certeza não é sozinha, já que os aluguéis no centro da cidade são caros demais para alguém como ela.
Eles são expansivos, meu pai e minha mãe. Ela é uma arquiteta renomada, uma referência até mesmo fora do país.
Meu pai é o advogado mais disputado atualmente, alguns o odeiam porque já aliviou muitas penas de gente que “não merecia”, mas eu o vejo como um herói, não para a sociedade, mas ele é uma inspiração em termos de sucesso pessoal. Digo que são expansivos porque gostam que saibam da sua condição financeira, gostam de mostrar que podem pagar pelas coisas, se possível, oferecem até mesmo um pagamento maior que o requisitado, e tudo bem, eles trabalharam para isso mesmo, não é?
Observava sempre meus dias passando da mesma forma, tudo muito automático. Permaneci na biblioteca por um bom tempo, até criar coragem de assumir os próximos compromissos.
A coisa que eu mais evitava era encontrar meus pais no período letivo, nas férias as coisas não aliviavam em nada, mas eram provas e matérias a menos para ser cobrada. Desde o segundo ano no internato eu decidi que passaria meus fins de semana confinada aqui, isso me daria vantagem porque teria mais tempo estudando e tendo acesso aos materiais por tempo extra. A coisa é que ao menos um final de semana por mês eu era obrigada a sentar numa mesa de jantar em qualquer restaurante caro da cidade e jantar em completo silêncio com meus pais, às vezes eles abriam a boca para questionar sobre meu empenho e notas, era terrível. Eu gostava da ideia dos meus pais, mas sinceramente, não gostava da presença deles, acho que desacostumei.
Apesar de evitar, não podia fugir do compromisso que fui obrigada a me comprometer. Fiz questão de me arrumar o máximo possível após o banho, minha mãe era linda. Apesar do rosto repuxado pelos procedimentos, era jovem ainda, o cabelo curto e negro lhe dava um pouco mais de ar de autoridade, não que precisasse, o nariz alongado e fino foi o que mais herdei dela. Deixei meu cabelo ondulado solto, minha vontade mesmo era cortá-lo, não via necessidade em mantê-lo na cintura, só atrapalhava. Mas meu pai era obcecado pelo meu cabelo, no dia em que eu cortasse com certeza seria deserdada.
Manti os fios fora do rosto com a ajuda de uma tiara que fora presente da minha avó, quase nunca a usava se não fosse para encontrar meus pais.
A maquiagem, apesar de sinceramente eu gostar, precisei usar porque as olheiras estavam tão fundas que provavelmente se alguém tirasse uma foto nossa para um desses jornais desocupados, a manchete seria algo do tipo “A filha do casal Capell metida com drogas?” um escândalo jamais seria bem-vindo.
O internato era enorme, precisei sair alguns minutos antes do combinado com o motorista dos meus pais, já que só descer as escadas e atravessar o saguão levariam um bom tempo, Felipa, a Alta Inquisidora do colégio, estava aguardando na porta.
— Um bom passeio, Amália. Diga a seus pais que preciso que respondam minhas cartas, por gentileza.
— Eles andam ocupados, Sra. Campeña.
— Tenho certeza de que é do interesse deles, irão arranjar um tempo. — Disse como se os conhecesse muito bem, mas ela é assim com todos. A calça de alfaiataria era muito maior do que o necessário para ela, cobria os Scarpins que ela com certeza queria que fossem vistos, levei meu olhar de cima para baixo e abri a porta após um aceno leve com a cabeça.
— Megera idiota. — Desabafei com o vento abrindo a porta do carro preto.
O caminho até o restaurante não era tão longo, ele ficava mais perto do internato do que parecia, já que havia sido pensado para que pudessem jantar sem pessoas indesejáveis por perto.
Eu passei tanto tempo dentro daquele palacete que havia me esquecido que gostava tanto do verde predominante dessas estradas, abri a janela ao lado para que o vento pudesse entrar e coloquei a cabeça pra fora.
Uma das coisas que mais gostava era exatamente isso, o que ocorria durante as aulas de hipismo e cavalgadas também, conforme a velocidade que você se move e a velocidade do vento, sua respiração e esse ar gélido se misturam, antigamente me sentia perturbada por gostar tanto da sensação de desespero em não conseguir respirar direito nessas horas, mas hoje em dia aprendi que gosto da sensação de haver uma única coisa que não posso controlar.
Le Palais é uma construção enorme, nada moderna mas muito elegante, apesar de usarem a desculpa de que é super reservado e as famílias da Elite preferem suas reuniões ali por isso, as paredes são vidro, tudo pode ser visto e acompanhado tanto de fora quanto por dentro. Gostaria de poder julgá-los, mas entendo exatamente eles, não importa se a comida é boa ou se o restaurante te traz alguma memória afetiva. Só frequentamos esse lugar porque podemos, porque o dinheiro não nos impede e nos convida a estarmos nos lugares mais extravagantes.
Quando o servente abriu a porta e eu adentrei o local, a primeira coisa que pude enxergar e sentir foram os olhares acusatórios dos meus pais, sentados no meio do enorme salão, as taças de vinho intactas na mesa, imaginei que o acompanhamento da bebida seria desgosto.
Já tenho o segundo capitulo completo, se quiserem ler e dar um feedback, é só pedir, por favorr.
submitted by kassyz to ClubeDeEscrita [link] [comments]


2024.04.12 14:25 kassyz Escrevi o primeiro capítulo e aceito feedbacks e críticas construtivas. ;)

Disciplina e obsessão não estão tão distantes assim uma da outra, mas ninguém sabe disso melhor do que eu, e eu tenho certeza.
Existem sim alguns pontos positivos em ser cobrada ao extremo, eu mesma tenho certeza do meu sucesso, apesar de saber que não posso parar nem mesmo um segundo, a recompensa é logo ali e eu só consigo enxergar ela.
O primeiro passo para a disciplina é o seguinte:
Ninguém se mete entre você e o seu objetivo. Ninguém é mais importante do que o seu sucesso, você vira noites e noites acordada porque tem um objetivo, ninguém tem o direito de te distrair ou roubar seu lugar.
Isso é algo que me irrita, sabe? mas lá no fundo, me motiva muito.
Eu estudo no internato Morgana Teresa para moças há uns cinco anos, e aqui é como um campo de batalha. Você não tem hobbies se seu hobbie não for útil para alcançar a nota mais alta da escola. O topo da cadeia alimentar é muito disputado e eu não tenho planos de deixar meu lugar para qualquer outra paspalha burra, desde que nasci me esforcei para ser a melhor em tudo, antes eu me esforçava por medo. Meu pai me dizia que ele não queria uma filha burra ou incompetente, não ligava mais para suas palavras cruéis ou seus castigos que talvez para quem não entenda possam parecer extremos. Não são. Na realidade, foi assim que aprendi a me tornar o que sou hoje.
O pior talvez tenha sido minha mãe. Geralmente são elas que defendem as filhas, mas mamãe sim foi cruel.
No meu primeiro ano no internato, Eugenia, a professora de francês, delatou aos meus pais que eu estava tendo dificuldades com algumas pronúncias. Naquele final de semana eu fui trancada no banheiro de visitas e só pude comer alguns petiscos quando acertava a pronúncia. Isso me fez atingir a fluência nos próximos sete meses de estudo, com excelência.
Chegando no internato, é possível sentir todos os pelos do seu corpo se eriçarem, o ar aqui não é bom. A competição é o que move todas as alunas, e as professoras nos sugam até a última gota de suor.
Quando cheguei aqui nesse ano reparei nos letreiros já velhos, era notável que precisavam de uma reforma, até porque algumas letras haviam caído.
Mor Te
P ra jovens moças da s i de
Seria assustador se não nos lembrássemos que antigamente costumávamos ter um letreiro de boas-vindas comum.
Morgana Teresa
Para jovens moças da sociedade
Com o tempo você se acostuma com o clima mórbido e obscuro do palacete, as paredes brancas e cinzas muito bem cuidadas, ao contrário da placa perto dos portões enormes de ferro, o chão de mármore reforçava que aqui o lugar não era para qualquer uma. Tudo era muito. Muito grande, muito vasto, muito exagerado, muito quieto.
—Você não aprende, não é? - escutei a velha alta e esquelética falar com Joana, a aluna mais recente matriculada aqui. —Quem foi que disse que vocês tem permissão para ir ao banheiro?
—Eu estava apertada, Clemente.
— Senhorita Cordova, Joana. Quem se importa com estar apertada? Já viu suas colegas irem ao banheiro durante a aula? — a garota negou com a cabeça, em silêncio. Quase pude sentir dó quando ela abaixou o olhar e suspirou, mas não sei se seria o correto, o tempo de aula é sagrado, afinal.
— Espero que isso não se repita, caso você tenha três observações, sabe o que te aguarda. — Dito isso, a velha retomou sua posição em frente ao quadro. Seus cabelos estavam tão bem presos e rígidos num rabo de cavalo sem graça, que seu rosto também repuxava, dando a ela um infeliz semblante de relaxamento forçado. Sua voz era deprimente, mas sempre com um quê de autoridade, a considerava a menos qualificada dali.
Após o último sinal recolhi tudo o que estava sob a mesa e me retirei da sala, ignorando qualquer uma que tentasse falar comigo, não ligava mais para os olhares que me lançavam. Certa vez ouvi de uma garota do sétimo ano que eu era mesquinha e maníaca, ela nem sequer me conhecia.
Meu tempo e rotina são organizados de acordo com o que minha tutora particular define. Se uma matéria for mais difícil, meus horários mudam, os remédios dobram para que eu possa manter o foco estudando mais e dormindo menos.
Essa semana dormi menos do que o comum, não que isso me incomode, recebi elogios da diretora quanto ao meu desempenho. Se não fossem os remédios eu provavelmente estaria como as outras garotas. Parecendo um zumbi perambulando com os uniformes azuis e cinza.
Continuei subindo as escadas meticulosamente limpas e brancas, nossos dormitórios estão no último andar, então a caminhada era um pouco mais extensa. Quando abri a porta do quarto que dividia com Denise, o que encontrei foi uma montoeira de roupas jogadas no chão e na cama dela, uma mala enorme aberta e com um secador dentro. Essa garota me irritava não só pela bagunça e desorganização, mas ela era a única que sentia prazer em competir comigo, e o pior de tudo é que seu maior dom era de fingir que nada era proposital, a santa Denise, tenhamos todos esperanças de que seus olhos azuis e nariz perfeito nos agraciem com sua atenção.
Me poupe.
A garota era relaxada, dormia mais do que podia e esfregava na nossa cara o fato de que não precisava se esforçar como eu. Semana passada tive que dormir com ela tagarelando sobre o quão orgulhosos seus pais são dela, faz questão de me cutucar perguntando o porquê dos meus ligarem tão pouco para mim, ou nunca comparecerem em reuniões de confraternização entre pais importantes da sociedade.
“— Eles são ocupados demais pra essa bobagem.” É tudo o que sempre respondo.
“— Acho que eles não gostam muito de você, não é?” Ouvi seu sorriso discreto e o farfalhar do edredom caro do internato enquanto ela se virava pra dormir, satisfeita em me provocar.
Quando voltei dos meus devaneios ela já estava sentada, enrolada na toalha e penteando os cabelos desnecessariamente enormes e pretos, como se ninguém soubesse que ele era castanho claro e ela pintava a cada duas semanas.
—Vai passar o fim de semana aqui de novo, A?
Odiava o modo como ela achava que tinha intimidade e me chamava pela letra inicial, como se fosse um apelidinho de amigas.
—Meu nome é Amalia. Não A.
—Perdão, A. -Riu nasalado, o deboche era tudo, menos invisível. Virou a cabeça e continuou penteando o cabelo, visto que já estava desembaraçado, mas ela era vaidosa. Gostava de mostrar como podia cuidar de tudo nela com a maior calma, que tinha tempo pra isso.
Ela parece estar sempre satisfeita, e eu não me conformo com isso. Eu passo noites acordada, estudando, arrancando fios de cabelo pra sentir minha cabeça mais leve, tomando remédios pra poder dizer que estou quimicamente calma, quando estou com mais medo de tudo de falhar. Enquanto ela só precisa de uma revisão, e só. Ela tem amigos, acho estranho a família dela não cobrar mais, eles não amam ela?
Não reparei que ela já estava pronta até o momento em que ela bateu a porta do quarto, só assim eu acordei e percebi que continuava em pé, igualzinha uma idiota.
Minha mãe já havia me dito que essa obsessão por Denise era ótima até certo ponto, porque talvez eu me inspirasse e me tornasse mais como ela. Foi pior do que os tapas que já havia recebido, isso fez com que eu odiasse ainda mais a garota.
Além do mais, não existia obsessão alguma, eu só detestava que pessoas como ela existissem.
Tranquei a porta aproveitando que estava sozinha e fui direto erguer o meu colchão, era onde eu escondia modafilina e alguns outros remédios que me ajudavam a render a produtividade e diminuir o sono, a única coisa que encontrei foi a caixa vazia de fluoxetina, vasculhei todo o espaço da cama, almofadas, e nada. Bolsas sem sinal dos remédios, o armário da mesma forma. Prendi a respiração por cinco segundos antes de pôr a mente em ordem e me lembrar que eu não precisava deles, o único que eu precisava para controlar a ansiedade tinha realmente acabado e logo meus pais enviariam outra caixa, ainda assim, era por tratamento, os outros eram só um estímulo para ter mais tempo pra estudar.
Eu tentava ao máximo manter tudo organizado, o dormitório era consideravelmente grande, até porque com a mensalidade cobrada para estarmos aqui, o espaço pelo menos deveria ser confortável. Como cada dormitório acolhia duas estudantes, cada lado tinha sua própria escrivaninha, tentava nunca reparar tanto na bagunça que Denise deixava na dela, mas era quase impossível ignorar. Celulares não eram permitidos aqui durante os dias de semana, então algumas coisas ficavam mais fáceis pelo fato de não ter tanta distração.
Não tinha nem mesmo tirado o uniforme antes de me sentar e revisar duas vezes tudo o que havia sido passado nas sete aulas que tínhamos tido, se o tempo não estivesse abafado, apesar da noite já ter caído, eu nem mesmo levantaria daqui antes da meia-noite. Meu nariz estava ardendo e eu sabia que essa era a hora de parar.
Soltei o cabelo e tirei a jaqueta, o banheiro da suíte nos fins de semana era só meu, então alguns bons vinte minutos de banho cairiam muito bem.
Eu gostava da água fervendo. Quente mesmo.
Gostava que o vapor enchesse o banheiro, embaçasse o box e o espelho, que as paredes ficassem úmidas, e eu não fugia dos pingos quentes, gostava que queimassem mesmo, isso sem dúvidas fazia com que minha pele não fosse tão hidratada quanto a das outras meninas, mas era o de menos. O ar quente que entrava era maravilhoso, gostava da sensação abafada causada dentro de mim.
Nesses momentos eu me permitia relaxar o máximo que conseguia. A cabeça estava sempre no maquinando, fritando e acelerando, mesmo nesses momentos mais tranquilos ela não cessava, ergui o rosto para o chuveiro e deixei a água quente cair o máximo que pude aguentar.
Já com o cabelo e o corpo limpo, o banheiro ainda estava nublado, então a minha visão no espelho era embaçada, mas era exatamente assim que me via. A sobrancelha grossa era a coisa mais vistosa, odiava o quão grandes e esbugalhados meus olhos escuros eram, puxei o cabelo para a frente, sobre os ombros, tentando entender se isso poderia mudar a minha imagem, mas eu continuava sempre a mesma, abri a boca e fiz barulhos aleatórios, só para me lembrar que ainda sabia falar, antes de voltar ao quarto e colocar o pijama caro que meu pai me deu quando consegui ganhar o primeiro lugar no campeonato de natação.
Claro que paguei um preço alto por isso, queria muito vencer por mérito próprio, mas infelizmente Jordana existe, é dois anos mais nova que eu, mas é um prodígio na natação.
Nada que ter esperado todas as outras meninas saírem do vestiário para deixá-la trancada durante a competição não resolvesse.
Ninguém descobriu, mas nas primeiras semanas a culpa me assombrou, acontece que eu fiz pelo meu bem, acho que é um bom motivo, para ganhar tudo é válido.
A noite no internato era sempre quieta demais, nada além dos pássaros rasgando o céu, às vezes era possível escutar o eco de alguma palmada, o som de algo pesado caindo com força no lago fundo perto do pátio, mas você acostuma.
O pior mesmo é o fantasma que ronda tudo isso aqui, e eu não estou falando de nada espiritual. Ninguém gosta de ninguém, nem mesmo os grupinhos formados por garotas, não adianta entrar aqui se enganando e achando que fará amizades, tudo aqui é competição. As professoras estão sempre tentando se sobressair, a falsidade é palpável em todos os âmbitos dessa porcaria.
Aos sábados a rotina era sempre a mesma.
Acordar antes do sol, meu relógio biológico já estava acostumado.
Roupa quente porque o frio é implacável no meio desse mato, e hipismo das seis horas da manhã até às oito.
Minha égua chamava-se Raiz, e é a única coisa a qual sou totalmente apegada, a única que me escuta de verdade e sem me julgar.
Quando voltava para dentro da escola, a entrada da minha tutora já havia sido liberada e estudávamos na biblioteca até às duas ou três, se estivéssemos perto de alguma prova, até às cinco horas da tarde, eu odiava a presença dela, inclusive, eu é quem deveria ser paga para orientá-la, mas meus pais achavam que eu não conseguia me virar sozinha então eu era obrigada a aceitar todas as suas explicações chulas e ignorantes com um sorriso falso e um acenar de cabeça.
— Você já pensou em dar um tempo?
Ergui o olhar para a garota de vinte e cinco anos na minha frente.
— Perdão?
— Você não para nunca? tipo, qual é. ‘Cê tem dezesseis anos e não tem vida.
— Acha que isso não é vida?
— Com certeza não, as garotinhas da sua idade a essas horas estão usando vestidos colados e bebendo martinis nessas baladas de gente rica.
— Não sou elas.
— Você acha que é melhor, eu sei. - Ela fingiu estar bocejando e revirando os olhos. — Cê só é sem graça mesmo.
— Se eu não fosse sem graça você provavelmente estaria morrendo de fome, ou se vendendo, não que você fosse odiar, né? Já que pra você ser só burra não é o suficiente, é obrigatório ser puta também. - O olhar dela refletia ódio, e isso por algum motivo alimentou minha satisfação.
— Terminamos por aqui. - Ela fez questão de pisar com força na minha bota de montaria, a dor no dedo não me incomodou, pelo contrário, eu havia atingido a loira. — Espero que valha muito a pena no seu futuro você ser tão focada. - E foi embora, com seu jeans desgastado e super skinny, a blusa de lã era nova, provavelmente comprada com o salário dos meus pais.
O dinheiro faz coisas.
Eu jamais me submeteria a essa posição humilhante, nunca aceitaria que falassem comigo como eu falei com ela. Mas ela precisa, o dinheiro que meus pais pagam a ela é suficiente para mantê-la bem e alimentada, não sei com quem ela mora, mas com certeza não é sozinha, já que os aluguéis no centro da cidade são caros demais para alguém como ela.
Eles são expansivos, meu pai e minha mãe. Ela é uma arquiteta renomada, uma referência até mesmo fora do país.
Meu pai é o advogado mais disputado atualmente, alguns o odeiam porque já aliviou muitas penas de gente que “não merecia”, mas eu o vejo como um herói, não para a sociedade, mas ele é uma inspiração em termos de sucesso pessoal. Digo que são expansivos porque gostam que saibam da sua condição financeira, gostam de mostrar que podem pagar pelas coisas, se possível, oferecem até mesmo um pagamento maior que o requisitado, e tudo bem, eles trabalharam para isso mesmo, não é?
Observava sempre meus dias passando da mesma forma, tudo muito automático. Permaneci na biblioteca por um bom tempo, até criar coragem de assumir os próximos compromissos.
A coisa que eu mais evitava era encontrar meus pais no período letivo, nas férias as coisas não aliviavam em nada, mas eram provas e matérias a menos para ser cobrada. Desde o segundo ano no internato eu decidi que passaria meus fins de semana confinada aqui, isso me daria vantagem porque teria mais tempo estudando e tendo acesso aos materiais por tempo extra. A coisa é que ao menos um final de semana por mês eu era obrigada a sentar numa mesa de jantar em qualquer restaurante caro da cidade e jantar em completo silêncio com meus pais, às vezes eles abriam a boca para questionar sobre meu empenho e notas, era terrível. Eu gostava da ideia dos meus pais, mas sinceramente, não gostava da presença deles, acho que desacostumei.
Apesar de evitar, não podia fugir do compromisso que fui obrigada a me comprometer. Fiz questão de me arrumar o máximo possível após o banho, minha mãe era linda. Apesar do rosto repuxado pelos procedimentos, era jovem ainda, o cabelo curto e negro lhe dava um pouco mais de ar de autoridade, não que precisasse, o nariz alongado e fino foi o que mais herdei dela. Deixei meu cabelo ondulado solto, minha vontade mesmo era cortá-lo, não via necessidade em mantê-lo na cintura, só atrapalhava. Mas meu pai era obcecado pelo meu cabelo, no dia em que eu cortasse com certeza seria deserdada.
Manti os fios fora do rosto com a ajuda de uma tiara que fora presente da minha avó, quase nunca a usava se não fosse para encontrar meus pais.
A maquiagem, apesar de sinceramente eu gostar, precisei usar porque as olheiras estavam tão fundas que provavelmente se alguém tirasse uma foto nossa para um desses jornais desocupados, a manchete seria algo do tipo “A filha do casal Capell metida com drogas?” um escândalo jamais seria bem-vindo.
O internato era enorme, precisei sair alguns minutos antes do combinado com o motorista dos meus pais, já que só descer as escadas e atravessar o saguão levariam um bom tempo, Felipa, a Alta Inquisidora do colégio, estava aguardando na porta.
— Um bom passeio, Amália. Diga a seus pais que preciso que respondam minhas cartas, por gentileza.
— Eles andam ocupados, Sra. Campeña.
— Tenho certeza de que é do interesse deles, irão arranjar um tempo. — Disse como se os conhecesse muito bem, mas ela é assim com todos. A calça de alfaiataria era muito maior do que o necessário para ela, cobria os Scarpins que ela com certeza queria que fossem vistos, levei meu olhar de cima para baixo e abri a porta após um aceno leve com a cabeça.
— Megera idiota. — Desabafei com o vento abrindo a porta do carro preto.
submitted by kassyz to EscritoresBrasil [link] [comments]


2024.04.02 02:47 picadejoso Joanna Lannister, ou A melhor parte de Lorde Tywin

He was not the same man after she died, Imp. The best part of him died with her.
—Gerion Lannister to Tyrion Lannister
Começo com essa citação. "Ele não é o mesmo homem desde que ela morreu, duende. A melhor parte dele morreu com ela". Por que? Porque primeiramente ela vem de Gerion Lannister, uma fonte mais fidedigna do que qualquer outra para falar do irmão. E principalmente porque essa frase dá uma importância muito grande para a Joanna. Alguém que impacta um personagem tão poderoso é tão poderosa quanto este.
Outra coisa importante para essa citação, é saber que ela é e foi basilar para Tyrion. Tanto para pensar na mãe, quanto para pensar no relacionamento da mãe com o pai. A gente não deixa de existir quando morremos, somente quando somos esquecidos. Não é porque você está morta que não te interessa como vais influenciar na vida do seu filho, marido, etc. Acredito, inclusive, que essa deva ser uma grande preocupação em nossos últimos momentos, especialmente se estivermos morrendo no parto.
Lord Tywin seldom spoke of his wife, but Tyrion had heard his uncles talk of the love between them. In those days, his father had been Aerys's Hand, and many people said that Lord Tywin Lannister ruled the Seven Kingdoms, but Lady Joanna ruled Lord Tywin.
"Lorde Tywin raramente falava sobre sua esposa, todavia Tyrion ouvira seus tios falando do amor entre eles. Naqueles dias seu pai era mão de Aerys, e muita gente dizia que Lorde Tywin Lannister governava os sete reinos, porém Lady Joanna governava Lorde Tywin. "
—thoughts of Tyrion Lannister
Esse pensamento do Tyrion parece ser uma espécie de saber comum westerosi. Algo que todos no Oeste concordam, algo que todos do e no Rochedo concordam. Vou tomar como verdade, assim como Pycelle, e o resto de Planetos.
Only Lady Joanna truly knows the man beneath the armor, and all his smiles belong to her and her alone. I do avow that I have even observed her make him laugh, not once, but on three separate occasions!
Só Lady Joanna realmente conhece o homem por "trás da máscara", e seus sorrisos são só para ela. Confesso que eu mesmo observei-a o fazendo rir, não uma, mas três vezes, e em diferentes ocasiões!
—Pycelle reporting to the Citadel
E por outro importante meistre:
With her death, Grand Maester Pycelle observes, the joy went out of Tywin Lannister, yet still he persisted in his duty.
Grande Meistre Pycelle cita que com a morte dela a alegria deixou Tywin Lannister (...)
—writings of Yandel
Todas as traduções são livres porque acha-las em português é difícil demais. Mas tá aí o original. Está aí algo que podemos cravar: o amor de Tywin e Joanna era real.
Espero que eles estejam juntos e felizes no primeiro dos Sete Infernos. Um Lannister não precisa conhecer outras opções que não a primeira.
Imagino que nesse momento você esteja pensando se ela está ou não no inferno com seu fiel marido. Talvez surpreso por nunca ter cogitado a hipótese de ela ser "malvada". Talvez mais curioso com o texto, e consigo mesmo, de agora em diante.
Joanna's servant caught Jaime and Cersei together, engaged in some kind of sexual activity. Joanna sent the maid away, moved Jaime's chamber to the other side of Casterly Rock, and put a guard outside of Cersei's chamber. She then warned her twins that they must never do such a thing again, or else she would be forced to tell their father.
Uma das servas de Joanna flagrou Jaime e Cersei juntos, envolvidos em uma espécie de sarrada nervosa. Joanna mandou-a embora*, trocando os aposentos de Jaime por um do outro lado de Rochedo Casterly, e colocando um guarda a porta dos aposentos de Cersei.*
Ué!? Por que Joanna mandou a serva embora? Faz sentido? Se ela não queria alguém falando sobre isso a última coisa a se fazer seria demitir tal pessoa. A primeira, seria matá-la. Parece drástico demais? Parece. O que não é o mesmo que parecer mentira, ainda mais em um pov do Jaime, como é o caso. Esse send the maid away é suspeito demais. Eu acredito que Joanna mandou executar a mulher para o assunto do incesto, já invariavelmente consumado, morrer.
"Ah, mas essa é sua interpretação". Claro que é uai. Então vamos a algo menos interpretativo. Vejamos o que podemos cravar. Infelizmente não temos acesso a povs de Joanna, e mesmo a forma como ela é citada não sustenta uma análise mais robusta a cerca da sua personalidade. Muito tem de ser presumido, não tem jeito. Pelo menos até eu poder fazer perguntas para o Martin.
Joanna pode ter nascido entre 244 e 252 segundo a wiki. Tywin sabemos que é de 242, então presumirei que ela também é de 242, ou, pelo menos, não de muito depois. Se houvesse uma diferença de idade digna de nota, isto estaria exposto em algum lugar. Mesmo dentro da obra não vemos indício disso. Não parece combinar com a parada de ela "mandar" nele. Fisicamente torna o "comentário" do Aerys mais improvável. Mas mesmo se ela fosse uma novinha loira de olhos verdes isso não muda nada, e ainda faz o Tywin mais fielmente foda por sequer cogitar casar a si mesmo com Sansa melhor partido da história Stark quando a tinha em sua posse.
Joanna casou-se com seu primo, algo que raramente vemos ser citado no Oeste. Eu mesmo não me lembro de outro caso agora, bêbado de vinho. O pai de Joanna, Jason, era filho de um irmão mais novo de Lorde Tytos Leão Desdentado Lannister. Mais interessante é saber que Jason era o quarto filho de Gerald com sua esposa Rohanne Lannister, outrora Rohanne Webber, aquela mesma baixinha sardenta da trança bonita que foi beijada por sor Duncan no segundo conto de Dunk & Egg. Lembrar que Joanna é neta de alguém tão carismática é algo que não pode ser esquecido.
Ela também tem uns cinco ou seis irmãos e irmãs que eu até poderia citar, mas deixaria o texto enfadonho. Só é bom lembrar que isso implica em várias coisas sobre crescer com vários irmãos. Várias coisas sobre as quais não vou discorrer, até porque cada um pode interpretar tal tipo de crescimento como quiser.
Joanna vai para Porto Real em 259, mais ou menos com dezesseis anos. É coroação de Jaehaerys II e seu primo já está lá há uma cara. Sabemos que ela permaneceu como aia da princesa Rhaella, mas não sabemos como nem porquê. Nem sabemos se isso importa, ou se é apenas simplesmente interessante. Será que ela já curtia o Tywin e por isso escolheu permanecer? Será que ela só gostava de ficar no centro do poder?
O casamento dos leões perfeitos se deu em 263, então temos quatro agitados anos de "namoro", visto que nesse tempo houve a Guerra dos Reis de Nove Moedas e a Rebelião Tarbeck & Reyne. Já tratei de tudo isso minuciosamente - assim como da vida de Lorde Tywin - em três ocasiões, e espero que já tenham lido / leiam.
Tywin craque da bola Lannister já tinha marcado só gols Puskas, sendo a fodendo mão do rei, tanto construindo sonhos quanto limpando merda, quando se casa. Joanna amava Tywin. Mas que Tywin ela amava? Todo mundo só ama a versão de alguém que só ela conhece, senhoras e senhores.
Aqui a coisa vai descaralhar um pouquinho, porque, em suma, eu acho que eu não sou uma boa pessoa. Não poderia dizer se uma boa pessoa pode amar e deliberadamente se casar com alguém como Tywin e permanecer assim ao seu lado. Pode ser que ela simplesmente quisesse corrigi-lo no maior dos clichês? Até pode, mas duvido muito, nem sei se isso ocorre tão frequentemente fora do Brasil, para um baby boomer ter pensado nisso nos anos noventa do século e do fodendo milênio passado.
Interpreto que ela casou com Tywin e o amou por ele ser capaz de fazer o que fez e ser mão do rei, não pode ele ter feito o que fez e ter se tornado a mão do rei. Não acho justo que para além disso suspeitem de simples interesse de parte da leoa, mas não posso ignorar que casando-se com o rei leão Joanna simplesmente tornou-se a mulher mais rica do mundo.
Por experiência vejo que mulheres muitas vezes ignoram o que lhes convém (graças a Deus!). E talvez seja assim. Ou talvez Joanna não se importasse com nada disso como é natural, visto que a "maldade" não era direcionada a ela.
Talvez seja um pouco de cada, visto que a era de ouro de Westeros ocorre durante o casamento deles. A última coisa que quero com isso é julgar "casou/ama com alguém assim porque é ruim como ele", mas sim dizer que ela traz a melhor versão de Tywin para ela, e consequentemente para o reino.
"Por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher"
Calma, não me downvoteiem. Estou de sacanagem, por mais que toda sacanagem tenha sua seriedade. Eu detesto essa frase ainda mais do que qualquer feminista das inter webs, por mais que por motivos diferentes; mas vamos praticar um pouquinho de semântica honesta.
Lógico que mulher pode ser grande sozinha e não precisa de homem pra nada blá blá blá etc., porém quando alguém dizia isso, dizia que por trás desses homens de poder que o estão lá porque o mundo "funciona assim", existem esposas igualmente grandiosas os ajudando em suas questões.
Para mim essa frase não funciona porque eu preferiria que o posto de gasolina em que eu estou escrevendo esse texto exploda do que ter esse tipo de relacionamento. E sei que para boa parte de quem lê no Brasil contemporâneo a lógica não se sustenta contra frases assim, que devem ser apenas combatidas. Porém, por mais que todos concordemos que tal frase é escrota e deva cair no ostracismo, é fato que por trás de Lorde Tywin havia a grandiosa Joanna (talvez até literalmente rs). Que foi ela quem tirou dele o melhor de si, que foi ela a responsável pela melhor parte do governo de Aerys.
Então agora vamos tratar do rei louco. Digo logo que não acredito que ele tenha estuprado a Joanna. Não acredito nisso simplesmente porque seria algo que Selmy saberia e passaria para frente, fofoqueiro que é. Barristan o tergiversador Ousado diz que Aerys ficou encantado com uma senhora de Rochedo Casterly, uma prima de Tywin.
Aqui combato com Pycelle:
Grand Maester Pycelle insists these tales are baseless, as Tywin would not have married Joanna if they were true, "for he was ever a proud man and not one accustomed to feasting on another man's leavings."
O Grande Meistre Pycelle insiste que essas historias são infundadas, que Tywin nunca se casaria com Joanna se elas fossem verdade. "Porque ele era um homem orgulhoso, que não era acostumado a se banquetear com os restos de outro homem."
Também acredito que isso seja verdade. É também verdade que Tywin é complexo, que Pycelle o trata como filho, e que grandes homens como Jon Arryn desposaram "mulheres usadas". Porém simplesmente acredito que o rei Louco não era tão foda assim de ter comido a Joanna. E se tivesse mesmo se deitado com tal heroína, talvez Tywin não se importasse desde que fosse inconfirmável, como o rolê dele com as prostituas no futuro. Simplesmente não importa quando tem amor envolvido, todo homem que já foi correspondido, apesar de seus valores e preferencias, sabe, por mais que negue. Isso é universal e atemporal, não tem jeito.
Saindo da possibilidade do sexo consentido anterior ao matrimônio: Muita gente gosta da ideia de estupro (que frase horrível) porque ela viabiliza de forma sine qua non a teoria Tyrion Targaryen. Usando de meta história é "legal" imaginar que o dragão tenha três cabeças, que Tyrion merece um dragão, que Joanna, Lyanna e Rhaella morrerem no parto são sinais de seus três filhos serem todos Targaryen tadalafilados de profecia cruciais e especiais lisan al gaib etc etc etc. Direito de quem quiser. Eu não acredito nisso, mas seria leviano em não trazer tal teoria para esse texto. Por mais que eu não vá entrar em detalhes e citar os comentários na obra, até porque, outra vez, se fosse necessário falar disso, o Mão da Rainha teria falado isso para Daenerys, por mais que tergiversando.
Não acredito principalmente porque entendo que uma mulher como Joanna revidaria. Estaria em condições de revidar. Ninguém racionaliza o ódio extremo. Ela e Tywin teriam orquestrado algo que faria o Saque de Porto real parecer uma fábula romantizada. Não parece mais plausível? Eu tô maluco em assumir isso por verdade? Tywin encara o reino todo por menos. E talvez Joanna fizesse pior - no meu ponto de vista "melhor" - do que ele. O dragão pode mudar de sexo quando quer, mas na selva e na savana é a leoa que caça para o leão banquetear-se.
A melhor coisa que uma mulher pode fazer é ser mãe. Assim como a melhor coisa que um homem pode fazer é ser pai. É criar vida, não tem jeito de argumentar contra isso. Criar fodendo vidas! Parece até magia. Jaime & Cersei tiveram tempo e contato com sua mãe, visto que seus pais haviam voltado pro Rochedo. E que belos monstros eles são! Jaime defenestra Bran, trai seus votos, fode a irmã, trai dois reis, e se esconde atrás da personalidade criminosamente chata de homens como Eddard Stark. Cersei é Cersei. Eu fico seguro em presumir que Joanna não era nenhuma santa para ter filhos assim. Temos vislumbres de uma Cersei de 10 anos de idade que já era uma monstra fofinha que eu adoraria chamar de filha. Acredito que Tywin e Joanna também.
A vida geralmente é uma desgraça. E a morte uma desgraça ainda maior. Joanna morre em 273, com seus trinta e poucos anos, dando à luz ao personagem favorito do autor da obra, Tyrion Lannister. Algo que vai devastar Lorde Tywin e impactar para sempre no rumo de Westeros.
Joanna estava fazendo planos quando morreu. Planos com dorneses (sete me salvem!). Isso outra vez indica o quão relevante ela era, dominado sozinha questões que não vemos outras Senhoras dominando. Basta ver como Tywin trata a ideia de Oberyn e Elia no Rochedo pós viuvez.
Se eu descobrisse que seria pai hoje, e a garota que eu engravidei me deixasse nomear nossa filha, a chamaria de Joana. Uma porque quero ter um Jaime, e duas porque Cersei é um nome que não é comum no Brasil e não acho certo dar um nome "diferente" assim para uma criança ter de lidar com ele enquanto cresce etc. (tenho um amigo que mudou de nome e já vi como é merda fazer isso com os filhos.)
Digo isso porque, se não disse com todas as letras, eu adoro a Joanna de paixão. Alguém que foi o amor de Lorde Tywin é meu amor também. Alguém que é mãe dos três personagens mais interessantes de ASOIAF merece meu carinho. Escrevi esse texto como prepararia uma aula sobre ela se fosse uma figura histórica da Terra, e espero que assim ele tenha sido interpretado.
Joanna foi uma mulher de seu tempo. Uma grande mulher de seu tempo. Alguém que amou e foi amada. Uma Lannister que foi protagonista não só de sua Casa, como de todo o reino. Uma mãe, esposa e mulher admirável. Uma verdadeira leoa. Alguém que entrou para a História.
Aqui meu objetivo foi reunir toda a informação que temos sobre Joanna, trazer as minhas interpretações sobre ela, e motivar quem me lê a ter as próprias. Espero ter feito isso tão bem quanto um Lannister faz qualquer coisa.
submitted by picadejoso to Valiria [link] [comments]


2024.02.08 01:40 Waste_Case_3057 PROVA SUB – FSCE – FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA II – 54/2023

1ª QUESTÃO A Universidade é o polo aglomerador das Ciências. É ela quem, por meio de suas funções básicas (ensino, pesquisa e extensão), possibilita o avanço do pensamento científico e age, decisivamente, em nossas vidas. Cada vez mais há profissionais de alto nível – com formação acadêmica que envolve especialização, mestrado, doutorado, sem contar os inúmeros cursos e formação contínua.
FASCINA, Diego L. M. Ciência. Formação Sociocultural e Ética II. UniCesumar: Maringá, 2023.
A partir da leitura do fragmento exposto e dos conteúdos abordados sobre “Ciência”, no Livro Digital, assinale a alternativa correta.
ALTERNATIVAS A função básica de uma Universidade há muito tempo deixou de ser a de agente de disseminação de novos conhecimentos e novas tecnologias. A contribuição decisiva para suprir as necessidades básicas da comunidade como saúde, educação e segurança é de cargo exclusivo do município. A União e os Estados são os únicos responsáveis por disponibilizarem esportes, assistência técnica, atividades agrícolas e pecuárias, esportes e tecnologia. As instituições de ensino superior, a partir de uma única abordagem, estão focadas em um papel que engloba apenas a formação profissionalizante dos seus alunos. A educação superior é componente de inclusão social no Brasil, sobretudo de minorias, pois visa melhor condição de vida e maior chance de entrada no mercado de trabalho.
2ª QUESTÃO Existe uma variedade de formas de se prejudicar pessoas e empresas, nas quais as formas de prejudicar as pessoas possuem até nomenclaturas próprias de acordo com o interesse do ato criminoso ou o método utilizado. Vamos adentrar um pouco nesse universo. A Kaspersky (2021) é uma empresa tecnológica russa, talvez a maior do mundo no seu setor, especializada na produção de softwares de segurança para a Internet, desde residencial até soluções para empresas. Ela destaca os tipos de ameaças cibernéticas atuais. CASTRO, Sílvio. Tecnologia. Formação Sociocultural e Ética II. Unicesumar: Maringá, 2023.
Considerando a leitura do texto na íntegra e relacionando ao tema estudado, assinale a opção correta.
ALTERNATIVAS O crime cibernético inclui somente atores individuais, que visam sistemas para perda financeira. O crime cibernético é uma ameaça complexa, que pode ser usada para atingir uma variedade de objetivos. O ciberterrorismo visa minar sistemas eletrônicos, gerando um sentimento de empatia e de colaboração entre as pessoas. Os ataques cibernéticos são ameaças para pessoas e empresas, sendo assim é dispensável conhecer os principais tipos de ataques e saber como se proteger contra eles. Os criminosos cibernéticos estão usando novas técnicas para atacar suas vítimas, tornando o processo impossível para os profissionais de segurança cibernética detectá-las e impedi-las.
3ª QUESTÃO Considere a seguinte situação fictícia. Joana ficou pensativa, após assistir o noticiário de uma rede de TV, o qual informou que pesquisadores constataram que houve um aumento dos eventos climáticos extremos nas últimas décadas. Eles disseram que esse desequilíbrio climático e hidrológico afeta o globo todo e deixa os seres humanos vulneráveis, pois pode se manifestar em forma de calor ou seca, enchente ou tempestade, ciclone e furacão, dias de temperaturas extremamente altas, seguidas de chuvas intensas ou mesmo de temporais, devido ao superaquecimento do planeta.
Relacionando a situação hipotética com os conhecimentos abordados na Unidade 2, do Livro Digital, assinale a opção correta.
ALTERNATIVAS A preocupação com o meio ambiente e esgotamento dos recursos naturais vem perdendo espaço e relevância na mídia e nas discussões acadêmicas. Apenas na elaboração de legislações é essencial discutir ações no que tange à sustentabilidade, para que se possa desenvolver um posicionamento acerca dessa temática. Tratar de meio ambiente e de inúmeros outros termos relacionados à degradação ambiental nada tem a ver com o exercício da cidadania e com a vivência em sociedade. A Política Nacional do Meio Ambiente define meio ambiente como sendo “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. A conceituação de meio ambiente, conforme consta no art. 3º, I, da Lei nº. 6.938/81 nos informa que devemos mencionar apenas os ambientes naturais, paisagens e ecossistemas isolados que nunca tiveram interferência antrópica.
4ª QUESTÃO Considere a seguinte situação fictícia. Ao concluir sua graduação em Biologia, Paula estava convicta de que desenvolveria sua carreira profissional no campo da pesquisa, que sempre foi sua área de maior interesse. Todavia, para atingir tal objetivo, ela está ciente de que precisará aprofundar seus estudos sobre os métodos científicos.
Relacionando a situação hipotética com os conteúdos da Unidade 1, do Livro Digital, assinale a resposta correta.
ALTERNATIVAS Na condição de futura pesquisadora, Paula deverá descartar possíveis variáveis, ao elaborar determinado método. Na busca por explicações para aprimorar suas pesquisas científicas, é inadmissível que Paula opte por novos caminhos metodológicos. No campo das ciências biológicas ou das demais áreas, os métodos estão isentos de falhas, a depender da natureza da questão analisada. Na constituição de um método, algumas variáveis devem ser desconsideradas, como é o caso das relações humanas e dos períodos históricos. Para que a Ciência avance adequadamente, a investigação, a ser proposta por Paula, deve adotar métodos que representem segurança e critérios de validade.
5ª QUESTÃO Leia o texto.
EDUCAR OS FILHOS. Felicidade. Disponível em: http://comoeduqueiminhafilha.blogspot.com/. Acesso em: 28 nov. 2023.
Com base na charge apresentada e no estudo da Unidade 2, do Livro Digital, avalie as afirmações a seguir. I. A charge pode ser interpretada como uma crítica à cultura do imediatismo que vivemos. II. A charge sugere uma reflexão para a importância da qualidade do tempo dedicado entre pais e filhos. III. As pessoas estão sempre conectadas às redes sociais e às outras formas de tecnologia. Isso pode levar os pais a priorizarem essas atividades em detrimento do tempo que passam com os filhos.
É correto o que se afirma em
ALTERNATIVAS I, apenas. II, apenas. III, apenas. I e II, apenas. I, II e III.
6ª QUESTÃO Leia os textos. Texto 1
Fonte: SANTOS, Arionauro da Silva. Desmatamento e Calor. Charge, 01 out. 2020. Disponível em: http://www.arionaurocartuns.com.b2020/10/charge-desmatamento-e-calor.html. Acesso em: 20 set. 2023.
Texto 2 O desmatamento de florestas vai provocar um aquecimento do clima global muito mais intenso do que o estimado originalmente, devido às alterações nas emissões de compostos orgânicos voláteis e as co-emissões de dióxido de carbono com gases reativos e gases de efeito estufa de meia-vida curta. Um time internacional de pesquisadores, com a participação do Instituto de Física da USP e na UNIFESP-Campus Diadema, calculou a forçante radiativa do desmatamento, levando em conta não somente o CO2 emitido, mas também o metano, o black carbon, a alteração no albedo de superfície e todos os efeitos radiativos conhecidos. O resultado final aponta que a temperatura vai subir mais do que o previsto anteriormente.
FIOCRUZ, Desmatamento vai aquecer ainda mais o clima do planeta. Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde. Disponível em: http://www.icict.fiocruz.bsites/www.icict.fiocruz.bfiles/Desmatamento%20e%20efeitos%20no%20clima%20global%20Artigo%20Nature%20Comm.pdf. Acesso em: 28 nov. 2023.
Com base na charge apresentada na Unidade 4, do Livro Digital, avalie as afirmações a seguir. I. O desmatamento está ligado diretamente ao calor, devido às condições climáticas. II. O desmatamento é geralmente um dos fatores que contribuem para as altas temperaturas no Brasil e no mundo. III. A charge sugere que o corte excessivo de árvores, provocado pela ação do personagem, compactua com as condições de temperaturas extremas. IV. O desmatamento está indiretamente ligado ao efeito estufa e a emissão de gases contidos na atmosfera e assim resulta em favoráveis efeitos radioativos. É correto o que se afirma em
ALTERNATIVAS II, apenas. I e III, apenas. III e IV, apenas. I, II e III, apenas. I, II, III e IV.
7ª QUESTÃO A robótica e a inteligência artificial podem fazer com que o pensamento racional exija menos processos de computação, enquanto atos aparentemente mais simples e que são facilmente executados pelo ser humano, como amarrar os sapatos ou pegar uma bolsa que caiu no chão, exigem enorme esforço computacional. Este fenômeno é conhecido como o paradoxo de Moravec. E, para muitos especialistas, é o motivo por que ainda não foi possível construir um robô completamente inteligente.
VALENCIA, Alejandro M. O paradoxo que explica por que robôs acham fácil o que é difícil e difícil o que é fácil. BBC Brasil, 14 jun. 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c6pv563dx21o Acesso em: 18 set. 2023.
Considerando a leitura do texto na íntegra e relacionando ao tema estudado, avalie as afirmações a seguir. I. O paradoxo de Moravec é uma prova de que os humanos são superiores aos robôs. II. O paradoxo de Moravec é uma das possíveis explicações para a dificuldade de construir robôs completamente inteligentes. III. O paradoxo de Moravec afirma que o raciocínio requer menos computação do que habilidades sensóriomotoras e de percepção.
É correto o que se afirma em
ALTERNATIVAS I, apenas. II, apenas. III, apenas. II e III, apenas. I, II e III.
8ª QUESTÃO Os processos de produção e de desenvolvimento social/econômico contribuem para a existência de situações de risco voltadas à saúde das populações, alterando os índices de morbimortalidade via presença ou acúmulo de elementos xenobióticos ou agentes biológicos de doenças. Para Calijuri et al. (2009), a dinâmica entre saúde-ambiente é caracterizada pela pluralidade dos fatores que a compõem, sendo eles de ordem: Política, econômica, social, cultural, psicológica, genética, biológica, física e química.
MATEUS, Gustavo A. P. Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Formação Sociocultural e Ética II. UniCesumar: Maringá, 2023.
A partir da leitura do fragmento acima e dos estudos sobre “Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável”, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I. A complexidade da dinâmica entre saúde e ambiente, conforme descrita por Calijuri et al. (2009), destaca a interligação de fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, psicológicos, genéticos, biológicos, físicos e químicos, evidenciando a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para compreender e enfrentar as situações de risco à saúde. PORQUE II. A abordagem multidisciplinar na compreensão da dinâmica saúde-ambiente é crucial para identificar e mitigar os efeitos adversos decorrentes da presença ou acúmulo de elementos xenobióticos e agentes biológicos, influenciando diretamente nos índices de morbimortalidade das populações.
A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.
ALTERNATIVAS As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. As asserções I e II são falsas.
9ª QUESTÃO A Universidade é o polo aglomerador das Ciências. É ela quem, por meio de suas funções básicas (ensino, pesquisa e extensão), possibilita o avanço do pensamento científico e age, decisivamente, em nossas vidas. Cada vez mais há profissionais de alto nível – com formação acadêmica que envolve especialização, mestrado, doutorado, sem contar os inúmeros cursos e formação contínua –, prestando contribuições decisivas não apenas para as comunidades através de suas necessidades básicas, mas também auxiliando, decisivamente, em questões que assolam o globo.
FASCINA, Diego L. M. Ciência. Formação Sociocultural e Ética II. Unicesumar: Maringá, 2023. (adaptado)
A partir da leitura do fragmento acima e dos estudos sobre “Ciências”, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas.
  1. A disseminação de novos conhecimentos e de novas tecnologias tem relação direta com a atuação das universidades, que também representam um espaço de inclusão social, principalmente, para as minorias. PORQUE II. Ao expor o estudante à pesquisa científica, as Instituições de Ensino Superior formam profissionais com melhor desempenho, capacitando-os a lidar com possíveis adaptações, contribuindo, portanto, para seu crescimento pessoal e profissional.
A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.
ALTERNATIVAS As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. As asserções I e II são falsas.
10ª QUESTÃO No Brasil, a regulamentação do uso de dados se deu recentemente por meio da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018, que entrou em vigor em 2020 e trouxe algumas sanções para 2021. A lei dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural.
CASTRO, Sílvio. Tecnologia. Formação Sociocultural e Ética II. Unicesumar: Maringá, 2023.
A partir da leitura do fragmento acima e dos estudos sobre “Tecnologia”, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas.
  1. Em todo momento, ao ser instalado um novo aplicativo nos smartphones, continuamente o sistema do aparelho perguntava se podia ter acesso às suas fotos, e-mails, lista de contatos, localização, informações de outros aplicativos instalados etc. PORQUE II. Percebe-se a inexistência de segurança nos sistemas operacionais (atualmente conhecidos como Android da Google ou iOS da Apple) esses em nada contribuem para a camada de segurança quando algum aplicativo tenta acessar os seus dados. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.
ALTERNATIVAS As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. As asserções I e II são falsas
submitted by Waste_Case_3057 to Primeeducacional [link] [comments]


2023.11.05 02:24 brunkowmark Pelo Amor ou Pela Dor - Parte Dois

- Marta, vou perguntar só uma vez e não minta para mim!
Meu estomago virou nessa hora, minhas pernas tremeram. Ele continuou olhando fixamente para mim e pela primeira vez em minha vida, aqueles olhos castanhos, não me olhavam com amor.
- Onde você esteve na noite passada e com quem?
Tentei mentir e confirmar a história.
- Do que você está falando, estava na casa da Ana. Como eu disse! Porque? Não confia em mim? Acha que eu te traí? – fingindo estar zangada e indignada.
Então tomei mais uma das grandes decisões erradas de minha vida. Comecei a acusa-lo de não confiar em mim, que estava envergonhada e enojada por ele desconfiar da minha honra e honestidade, como ele se atrevia a desconfiar de sua esposa que está com ela a mais de dez anos e coisas do tipo, tentando virar a situação a meu favor.
- ONDE VOCÊ ESTAVA E COM QUEM?
Meu marido nunca, até aquele momento, havia levantado a voz para mim. Levei um susto tão grande que tremi dos pés à cabeça, mas sabia que tinha que manter minha postura ou meu casamento estaria acabado. Com a voz tremula disse.
- Eu já falei, estava com a ANA. Ligue para ela se não acredita em mim.
Jogada arriscada, mas eu confiava na Ana e depois eu explicaria tudo.
Ele respirou fundo, se acalmou e disse.
- A Ana saiu aqui de casa ontem eram onze horas, Marta. Ela veio aqui segundo ela mesma, por um pedido seu, para me explicar que eu não deveria sentir ciúmes das suas realizações profissionais...
Minhas pernas tremeram e eu cai sentada em uma cadeira.
Ele pegou meu celular que estava em cima da mesa e virou a tela em minha direção. Enquanto eu estava no quarto, ele entrou no aplicativo da Uber e foi em atividades, onde mostra a última viajem feita e lá estava o trajeto do motel Zelda até nossa casa.
- Você me traiu Marta? Sério Marta? Traição...
Eu comecei a chorar, e dizer o que todo traidor diz quando é pego, que foi um erro, que foi só aquela vez, que eu estava bêbada, que nós estávamos brigando muito, e eu estava me sentindo sozinha, carente e etc. Implorei por perdão, pedi desculpas, mas não conseguia olhar ele nos olhos. Foi então que ouvi um copo se quebrar.
Olhei para ele que apertou com tanta força o copo em sua mão que partiu ele ao meio. A sua mão começo a sangrar. Eu levantei assustada para ir em sua direção, ele levantou a mão ensanguentada e gritou.
- NÃO ME TOQUE.
Se virou, pegou a chave do carro e saiu em disparada batendo a porta.
Confesso que os sentimentos que senti eram contraditórios. Eu estava triste e abalada com o ocorrido, mas também sentia como se um peso tivesse sido tirado de minhas costas. Eu não conseguiria viver com a mentira. Tentei entrar em contato com meu marido, mas ele havia me bloqueado em tudo. Passei dois dias tentando de todas as formas falar com ele e nada. Me sentia horrível, a culpa e o remorso estavam me matando. Eu o amava verdadeiramente e sabia o erro terrível que cometi. Se não fosse o apoio de Ana acho que teria enlouquecido. Até que no terceiro dia depois do ocorrido recebo uma mensagem de texto de meu marido. Ele queira se encontrar comigo as 14h na mesma cafeteria que nos conhecemos e nos apaixonamos.
Eu me arrumei toda, coloquei o vestido que eu sabia que ele amava, um florido longo com alcinhas, ele dizia que não se via mais mulheres vestidas de mulheres e adorava quando eu me vestia assim, coloquei o perfume que sabia que ele amava e meia hora antes do combinado, estava sentada na cafeteria esperando por ele angustiada.
Ao entrar lá meu coração tremeu, tantas lembranças boas, foi ali que o conheci. Ele estava parado na fila esperando o café. Me apaixonei imediatamente, sei que parece bobeira, mas foi a mais pura realidade, sabia que ele era o homem que eu queria passar o resto da vida junto, até morrermos bem velhinhos. Passei por ele e esbarrei propositalmente, derrubando café nele. Assim começamos a conversar e namorar.
Isso agora doía tanto, parecia que havia sido em outra vida, não conseguia entender o que eu tinha na cabeça para ter feito o que fiz. Trocar uma vida por uma noite. Toda vez que o sino na porta tocava anunciando que alguém entrava, meu coração batia mais forte. Deu 14h, 14:30h, 15h, 15:30, 16h e foi aí que percebi que ele não viria. Tentei ligar para ele, mas ele havia me bloqueado novamente.
Ao chegar em casa entendi o motivo para ele não ter ido a cafeteria. Para não ter que me ver ele aproveitou que eu não estava e retirou tudo que era seu de casa, roupas, sapatos, pertences. Em cima da mesa estava um bilhete com sua letra que dizia.
- Número do meu advogado.
E ao lado, a aliança dele.
Ali confesso que a ficha, não, o meteoro, finalmente caiu. Compreendi que havia perdido o amor de minha vida pra sempre. Que meu casamento estava terminado. Senti raiva, dor, chorei, bebi e se não fosse o apoio incondicional de Ana, acredito que hoje não estaria aqui relatando isso.
Três meses se passaram e eu não tive noticias de meu agora ex-marido. Até que uma tarde estava no escritório e recebo a visita de seu advogado. Ele trazia os papéis para o divórcio.
Nossa, ainda lembro da sensação como se fosse hoje. No início fiquei confusa, triste, magoada, mas então esse sentimento se transformou em uma raiva tão grande dele. É isso mesmo, raiva do meu marido, por ele não querer nem dar o direito de me explicar. Que por um erro meu, ele decidiu jogar todos os anos de nosso casamento fora assim. Por ele se achar tão perfeito que nunca errou. Por ele ser tão egoísta e covarde a ponto de não querer sequer falar comigo. Então tomei uma decisão. Olhando para seu advogado com raiva disse.
É... eu ainda achava que estava na razão.
- Diga para o covarde de seu cliente que só assinarei estes papéis se ele tiver a ombridade de agir como homem de verdade e se dignar falar comigo antes.
Seis meses se passaram e foi marcada a audiência de conciliação. Basicamente é uma audiência onde estão presentes os interessados e uma juíza mediadora para tentar resolver o problema antes de virar um divórcio litigioso.
Cheguei no fórum meia hora antes na esperança de ver meu marido, mas não o vi. Deu o horário entramos na sala. Estavam eu, minha advogada, a juíza e uma escrivã, mas nem meu marido nem seu advogado. Esperamos cinco minutos até que a porta abre e entra o advogado e alguns instantes depois meu marido.
Meu coração parecia que iria sair pela boca ao vê-lo. Fazia tanto tempo que tive que segurar as lágrimas. Ele parecia mais velho, estava mais magro, cabelo curto comuns fios grisalhos que nunca tinha prestado a tenção. Sua barba estava grande e farta, coisa que ele nunca usava, era grossa preta da cor dos cabelos com mexas brancas no queijo. Confesso que ele estava mais atraente que nunca, mais maduro, mais charmoso.
Eles pediram desculpas pelo atraso se sentaram e começaram as tratativas, leitura dos termos do divórcio, separação de bens, etc. Desde o momento em que ele entrou na sala ele não olhou uma única vez sequer para mim, nem uma. Aquilo estava me matando. A reunião continuou até que a juíza entregou os documentos para ele assinar. Ele assinou e entregou os papeis para seu advogado, que os empurrou para mim.
Foi aí que explodi. Dei um grito olhando fixamente para ele que fez com que todos na sala, exceto ele, tremessem.
- OLHE PARA MIM! FALA COMIGO! ME XINGUE, MAS FALE COMIGO!
Minha advogada colocou a mão em meu ombro para me acalmar, a juíza ia começar a falar quando ele olhando fixamente para mim, e pela segunda vez na vida aqueles olhos castanhos não me olhavam com amor, mas agora com dor e tristeza, disse com a voz mias dolorida e sofrida que algum dia já ouvi.
- E o que você quer que eu diga Marta? Que eu te perdoei, que eu sei que foi só um erro, que você se arrepende e que foi só uma vez. Que você me ama?
Eu ia falar, mas ele levantou a mão em minha direção me silenciando.
- Você queria que eu falasse, então agora escute. Você quer ouvir que eu te amo? Sim Marta eu ainda te amo e acredito que sempre vou te amar. Infelizmente não existe um botão para ligar ou desligar um sentimento. Para mim é como naquela primeira vez que a vi na cafeteria. Para mim nada mudou. E é isso que mais tenho raiva em mim hoje, ter me permitido te amar tanto, permitir ainda sentir esse sentimento por você e não conseguir tira-lo de dentro de mim. Mas o tempo é o senhor da verdade e sei que a cura virá um dia. Me odiar por saber que para mim é tão difícil me libertar porque eu adorava nossa vida juntos, nossas conversas, nossas risadas, tudo o que construímos.
Adorava todas as suas manias, nossos momentos de intimidade ou de silêncio, somente desfrutando da presença um do outro. E não eram as grandes coisas, eram as pequenas que eu mais amava. Por exemplo quando estávamos deitados e você colocava a mão gelada me abraçando. O cheiro de seu cabelo, de beijar sua nuca antes de dormir abraçados. Até as coisas irritantes eu amava, como o fato de você simplesmente ser incapaz de tampar a pasta de dentes, ou deixar as roupas espalhadas no quarto antes de tomar banho, ou colocar a tolha molhada na cama.
Me orgulhava da mulher forte e independente que você se tornou desde que começou a trabalhar em seu novo emprego, sua inteligência, esforço dedicação e profissionalismo. Amava a força, companhia e paz que você me passava mesmo nos momentos mais difíceis que tivemos. Mas hoje entendo que o amor nunca é o suficiente e que em um relacionamento um sempre ama mais que o outro e o que ama mais sempre está em desvantagem.
Eu poderia esperar tudo de você, menos traição. Você sabe minha opinião sobre isso. Sabe o que eu acredito que acontece com traidores. A traição é pior para alma que o suicídio. Quando você se suicida é porque a dor e a desesperança venceram, é um ato de sofrimento extremo.
Mas para traição não existe explicação ou justificativa, desde a primeira troca de olhares você sabe que está errado. Um alarme grita em sua cabeça, mas você escolhe ignorar. Aí vem as mensagens, os encontros, as mentiras, a dissimulação e a cada passo o alarme berrando, está errado, está errado e você por puro orgulho e egoísmo o ignora.
A traição é quando o “EU” suplanta tudo e todos, a família, os filhos, o respeito, a dignidade, tudo fica em segundo plano. Tudo o que você quer é satisfazer sua necessidade sexual, seu desejo, seu prazer. Sabe que mesmo que venha a ser descoberto o traído é que vai virar motivo de chacota, piada, vai ser chamado de corno, chifrudo, etc. Já o traído vai ser enaltecido como o esperto, o malandro. Tem tanta certeza disso que utiliza dos dois sentimentos mais puros que a humanidade tem, como arma contra o traído. O Amor que ele sente por você e a confiança. E isso é algo tão grave, que quando você trai, você literalmente cria uma “Horcrux”, você parte sua alma, cria um buraco nela.
Fica calado uns segundos olhando para baixo e então prossegue.
O que mais você quer saber Marta? Se te perdoo?
Agora quem não conseguia olhar para ele era eu e tudo que eu queria era que ele parasse de falar. Hoje entendo que deveria apenas ter assinado aqueles papéis e ido embora.
Mas ele para um pouco, pensa, respira fundo e prossegue.
Hoje ainda não, pois dói muito ainda, mas sim, Marta, sei que um dia irei lhe perdoar e tanto eu como você sairemos mais fortes dessa situação. Não lhe desejo o mal, sei que cometemos erros, que ninguém é perfeito, mas se existe algo que também sei sobre mim é nunca mais em minha vida vou poder tocar em você, beija-la, sabendo o que outro homem fez isso enquanto erámos casados. Nunca mais poderei confiar me você.
Então se algum dia a mulher pela qual eu me apaixonei, descente, honesta, e que me amava e que acreditei que ficaria o resto de minha vida junto existiu, peço... não, suplico, que assine esses papéis para que eu possa encerrar esse capítulo de minha vida.
Bom, não preciso descrever o clima na sala. Minha advogada chorava, a juíza chorava, a escrivã chorava até o advogado dele tentava esconder as lágrimas.
Eu peguei aquela caneta tremendo, assinei não sei nem como e saí correndo.
Ali foi a primeira vez que percebi o mal que eu havia feito a ele. O quanto eu tinha sido egoísta. Confesso que nunca tinha pensado em como isso havia afetado ele. Entender toda a dor que causei a quem eu amava me mudou profundamente. Entendi as palavras da Ana, em chegar ao topo e estar só. A felicidade tem que ser compartilhada se não, não é felicidade.
Dois anos se passaram e nunca mais tive contato com meu ex-marido. Nem uma notícia, nada. Um dia Ana entra em minha sala, senta na cadeira em frente minha mesa com um sorriso que nunca tinha visto antes. Falei intrigada.
- Nossa, que felicidade toda é essa?
- Então meu amor, hoje venho dizer que estou deixando a presidência da empresa e queria comunicar isso pessoalmente a você.
Confesso que levei um susto.
- Então é verdade. Achei que fosse radio pião, fofoca dos bastidores.
Ela começou a rir.
- É nada fica escondido mesmo. Mas sim, formalizei minha saída, o meu sucessor é um homem muito responsável e competente e me garantiu que não fará mudanças na diretoria você pode ficar despreocupada. Ele sabe de sua competência e profissionalismo.
- Fico muito orgulhosa, isso vindo de você. Mas e agora vai fazer o que dá vida?
-Vou viver. Lembra que disse uma vez que se pudesse faria opções diferentes em relação minha vida pessoal? Então vou atrás da minha felicidade. Já é hora, espero que ainda de tempo.
Ela ficou quieta e me olhou estranhamente como se sentisse culpada ou sei lá, então disse.
- Você sabe que é como uma irmã para mim, não sabe?
- Claro que sei e sempre serei grata a você por tudo.
Levantei fui até ela, nos abraçamos forte choramos e ela deixou minha sala.
Mais dois anos se passaram. Afinal a vida continua. Continuei sem notícias de meu ex-marido. Tive alguns relacionamentos, mas nada sério, que valesse a pena. Uma tarde estava tranquila em minha sala quando dona Célia, esposa do diretor de manufatura, entra em minha sala. Ela era grande amiga de Ana e nos tornamos amigas por isso.
- Marta meu amor, estava passando e não poderia vir aqui sem lhe dar um beijo.
- Dona Célia que maravilha, quanto tempo.
Conversamos amenidades durante um tempo então ela se levanta para ir saindo, mas antes ela pergunta.
- Sabe quem foi na minha casa semana passada jantar? A Ana. – sorrido.
- Nossa, faz ano que não falo com ela, desde que ela deixou a empresa. Achei que ela estivesse no exterior.
- Não. Está casada e tem uma filhinha coisa mais linda. Tem uns sete meses acho. Beatriz é o seu nome.
Levei um susto em ouvir aquilo, Ana casada e com uma filha. Ela nunca mais falou comigo desde que deixou a empresa. Porque será que ela não me contou.
- A Ana casada e com filho, quem diria!
- E você sabe, ela sempre foi uma mulher muito bonita, mas agora está linda, não, radiante é a palavra certa, a felicidade resplandece nela. Nunca tinha visto ela tão feliz.
Nisso dona Célia percebe em cima da minha mesa um porta retrato onde tinha uma foto em que eu, Ana e Arthur estávamos abraçados, tirada em um dos churrasco em nossa antiga casa. Ela segura a foto mais perto, coloca os óculos, para ver melhor.
- A Ana já era casada quando trabalhava aqui?
- O que? Não, claro que não.
- Ué, mas esse é o marido da Ana, o Arthur.
Apontado para a foto.
Minhas pernas tremeram. Pensei, não acredito nisso, foi por isso que nunca mais ouvi falar da Ana. Ela estava atrás do meu marido. O Arthur tentou me avisar aquele dia e eu fiz piada. Me controlei e falei.
- A senhora tem certeza?
- Marta sou velha, mas sei reconhecer um homem charmoso quando vejo. – rindo.
- Dona Célia a senhora tem o endereço da Ana, quero passar para ver a filhinha dela, faz anos que não a vejo?
- Claro Marta, aqui está.
Na manhã seguinte estava eu parada na porta de uma casa de dois andares, linda, com um gramado incrível, janelas grandes. Toco a campainha e um tempo depois a empregada aparece.
- Bom dia, posso ajudar.
- Oi sou uma antiga amiga da Ana, ela está?
Nisso olho para a escada que levava ao andar de cima e Ana descia carregando no colo um bebê. Ela me viu, parou na escada assustada e falou para empregada.
- Obrigada Joana, eu atendo.
Ao vê-la meu sangue ferveu, ela realmente estava linda.
Ela entrega a menina para a empregada, respirava fundo, caminha até a porta, olha fixamente em meus olhos e antes que eu pudesse dizer ou fazer qualquer coisa me abraça forte e começa a chorar de soluçar.
Confesso que aquilo quebrou minhas pernas, nada aconteceu como eu tinha esperado. Pensei em mil e uma coisas que diria a ela, como ela era uma cobra traidora, enganadora, hipócrita, destruidora de lares, imaginei eu esbofeteando a cara dela, xingando, gritando, mas na verdade a única coisa que consegui fazer foi a chorar abraçada a ela.
Fomos até a sala e ela começou a fala.
- Me perdoe, eu queria te contar eu juro. Falei com o Arthur, briguei, voltei a falar em te contar, que não era certo, não era justo, mas ele disse que você não entenderia e que isso iria me machucar e machucar você. Juro que nunca tivemos nada enquanto vocês estavam casados. Você tem que acreditar em mim.
Respirei fundo e disse.
- Uma semana antes do fatídico dia da minha traição, no churrasco lá em casa, o Arthur tentou me dizer que você deu em cima dele, que tentou até beija-lo?
Ela ficou encabulada, olhou para o chão envergonhada.
- É verdade. Mas ele, sendo o Arthur, disse que não queria nada comigo, que te amava e eu então compreendi o homem integro que ele era. Mas também tenho que confessar para você que estava apaixonada por ele. Sabia qual era o meu lugar. Nunca fui atras dele, mesmo após o divórcio de vocês, ele é que me procurou dois anos depois, então começamos a sair. Marta eu nunca quis te magoar, mas eu amo realmente ele e ele me ama e por mais que eu te considere uma irmã, não vou desistir de minha felicidade novamente. – olhando séria e decidida para mim.
Eu sei que o que vou dizer agora vai parecer hipocrisia, fantasia ou besteira, mas não sei exatamente porque, mas, aquilo me tranquilizou, foi como tirar um peso de meus ombros. Eu sofria todos aqueles anos me culpando por ter feito Arthur sofrer tanto e por isso me privava de tentar ser feliz novamente.
Agora que via que ele estava casado feliz,que ele conseguiu reconstruir sua vida, isso foi para mim um encerramento. Sabia que dali em diante eu poderia seguir minha vida sem culpa. Estava livre para procurar a felicidade também. E saber que ele estava com a única mulher no mundo que eu sabia que seria perfeita para ele me deixava ainda mais feliz. Chorando falei.
- Eu senti tanto sua falta, falta da minha irmã mais velha. Nunca mais suma.
Nos abramos chorando. Quando finalmente paramos de chorar disse.
- Agora quero conhecer sua bebê.
- Beatriz é o nome dela.
Passei o resto do dia com elas e no final da tarde Arthur chegou. Ao me ver ele abriu um sorriso vendo que estávamos bem, eu com bebê no colo. Jantamos juntos. Mais tarde Ana foi levar Beatriz para dormir fiquei na sala com Arthur. Estávamos em paz. Ele falou.
- Que bom que vocês se acertaram. Ana sente muito a sua falta. Ela sofreu bastante com o afastamento. A culpa foi minha dela não te contar. Desculpe.
- Ela me disse. Sem problema. Mudei muito nesses anos. A vida é um professor severo, mas competente.
- Não batizamos a Beatriz ainda. A Ana não permitiu.
- Ué, porque?
- Ela quer que você seja madrinha. O que você me diz?
- Tudo bem para você?
- Nada me deixaria mais feliz.
Comecei a chorar e aceite.
Dois anos se passaram e hoje é o dia de meu casamento. Encontrei finalmente um amor sei que não cometerei os mesmos erros. Meus padrinhos são Ana e Arthur e como daminha de honra, minha afiliada Beatriz.
Apesar de ser um desabafo espero que esse relato sirva para que outras mulheres não cometam os mesmos erros que eu. Eu tive muita sorte, a vida me deu outra chance. Não desperdicem as suas.
submitted by brunkowmark to RelatosDoReddit [link] [comments]


2023.10.13 03:05 brunkowmark Como acabei com meu casamento Parte 2

Confesso que os sentimentos que senti eram contraditórios. Eu estava triste e abalada com o ocorrido, mas também sentia como se um peso tivesse sido tirado de minhas costas. Eu não conseguiria viver com a mentira. Tentei entrar em contato com meu marido, mas ele havia me bloqueado em tudo. Passei dois dias tentando de todas as formas falar com ele e nada. Me sentia horrível, a culpa e o remorso estavam me matando. Eu o amava verdadeiramente e sabia o erro terrível que cometi. Se não fosse o apoio de Ana acho que teria enlouquecido. Até que no terceiro dia depois do ocorrido recebo uma mensagem de texto de meu marido. Ele queira se encontrar comigo as 14h na mesma cafeteria que nos conhecemos e nos apaixonamos.
Eu me arrumei toda, coloquei o vestido que eu sabia que ele amava, um florido longo com alcinhas, ele dizia que não se via mais mulheres vestidas de mulheres e adorava quando eu me vestia assim, coloquei o perfume que sabia que ele amava e meia hora antes do combinado, estava sentada na cafeteria esperando por ele angustiada.
Ao entrar lá meu coração tremeu, tantas lembranças boas, foi ali que o conheci. Ele estava parado na fila esperando o café. Me apaixonei imediatamente, sei que parece bobeira, mas foi a mais pura realidade, sabia que ele era o homem que eu queria passar o resto da vida junto, até morrermos bem velhinhos. Passei por ele e esbarrei propositalmente, derrubando café nele. Assim começamos a conversar e namorar.
Isso agora doía tanto, parecia que havia sido em outra vida, não conseguia entender o que eu tinha na cabeça para ter feito o que fiz. Trocar uma vida por uma noite. Toda vez que o sino na porta tocava anunciando que alguém entrava, meu coração batia mais forte. Deu 14h, 14:30h, 15h, 15:30, 16h e foi aí que percebi que ele não viria. Tentei ligar para ele, mas ele havia me bloqueado novamente.
Ao chegar em casa entendi o motivo para ele não ter ido a cafeteria. Para não ter que me ver ele aproveitou que eu não estava e retirou tudo que era seu de casa, roupas, sapatos, pertences. Em cima da mesa estava um bilhete com sua letra que dizia.
- Número do meu advogado.
E ao lado, a aliança dele.
Ali confesso que a ficha, não, o meteoro, finalmente caiu. Compreendi que havia perdido o amor de minha vida pra sempre. Que meu casamento estava terminado. Senti raiva, dor, chorei, bebi e se não fosse o apoio incondicional de Ana, acredito que hoje não estaria aqui relatando isso.
Três meses se passaram e eu não tive noticias de meu agora ex-marido. Até que uma tarde estava no escritório e recebo a visita de seu advogado. Ele trazia os papéis para o divórcio.
Nossa, ainda lembro da sensação como se fosse hoje. No início fiquei confusa, triste, magoada, mas então esse sentimento se transformou em uma raiva tão grande dele. É isso mesmo, raiva do meu marido, por ele não querer nem dar o direito de me explicar. Que por um erro meu, ele decidiu jogar todos os anos de nosso casamento fora assim. Por ele se achar tão perfeito que nunca errou. Por ele ser tão egoísta e covarde a ponto de não querer sequer falar comigo. Então tomei uma decisão. Olhando para seu advogado com raiva disse.
É... eu ainda achava que estava na razão.
- Diga para o covarde de seu cliente que só assinarei estes papéis se ele tiver a ombridade de agir como homem de verdade e se dignar falar comigo antes.
Seis meses se passaram e foi marcada a audiência de conciliação. Basicamente é uma audiência onde estão presentes os interessados e uma juíza mediadora para tentar resolver o problema antes de virar um divórcio litigioso.
Cheguei no fórum meia hora antes na esperança de ver meu marido, mas não o vi. Deu o horário entramos na sala. Estavam eu, minha advogada, a juíza e uma escrivã, mas nem meu marido nem seu advogado. Esperamos cinco minutos até que a porta abre e entra o advogado e alguns instantes depois meu marido.
Meu coração parecia que iria sair pela boca ao vê-lo. Fazia tanto tempo que tive que segurar as lágrimas. Ele parecia mais velho, estava mais magro, cabelo curto comuns fios grisalhos que nunca tinha prestado a tenção. Sua barba estava grande e farta, coisa que ele nunca usava, era grossa preta da cor dos cabelos com mexas brancas no queijo. Confesso que ele estava mais atraente que nunca, mais maduro, mais charmoso.
Eles pediram desculpas pelo atraso se sentaram e começaram as tratativas, leitura dos termos do divórcio, separação de bens, etc. Desde o momento em que ele entrou na sala ele não olhou uma única vez sequer para mim, nem uma. Aquilo estava me matando. A reunião continuou até que a juíza entregou os documentos para ele assinar. Ele assinou e entregou os papeis para seu advogado, que os empurrou para mim.
Foi aí que explodi. Dei um grito olhando fixamente para ele que fez com que todos na sala, exceto ele, tremessem.
- OLHE PARA MIM! FALA COMIGO! ME XINGUE, MAS FALE COMIGO!
Minha advogada colocou a mão em meu ombro para me acalmar, a juíza ia começar a falar quando ele olhando fixamente para mim, e pela segunda vez na vida aqueles olhos castanhos não me olhavam com amor, mas agora com dor e tristeza, disse com a voz mias dolorida e sofrida que algum dia já ouvi.
- E o que você quer que eu diga Marta? Que eu te perdoei, que eu sei que foi só um erro, que você se arrepende e que foi só uma vez. Que você me ama?
Eu ia falar, mas ele levantou a mão em minha direção me silenciando.
- Você queria que eu falasse, então agora escute. Você quer ouvir que eu te amo? Sim Marta eu ainda te amo e acredito que sempre vou te amar. Infelizmente não existe um botão para ligar ou desligar um sentimento. Para mim é como naquela primeira vez que a vi na cafeteria. Para mim nada mudou. E é isso que mais tenho raiva em mim hoje, ter me permitido te amar tanto, permitir ainda sentir esse sentimento por você e não conseguir tira-lo de dentro de mim. Mas o tempo é o senhor da verdade e sei que a cura virá um dia. Me odiar por saber que para mim é tão difícil me libertar porque eu adorava nossa vida juntos, nossas conversas, nossas risadas, tudo o que construímos.
Adorava todas as suas manias, nossos momentos de intimidade ou de silêncio, somente desfrutando da presença um do outro. E não eram as grandes coisas, eram as pequenas que eu mais amava. Por exemplo quando estávamos deitados e você colocava a mão gelada me abraçando. O cheiro de seu cabelo, de beijar sua nuca antes de dormir abraçados. Até as coisas irritantes eu amava, como o fato de você simplesmente ser incapaz de tampar a pasta de dentes, ou deixar as roupas espalhadas no quarto antes de tomar banho, ou colocar a tolha molhada na cama.
Me orgulhava da mulher forte e independente que você se tornou desde que começou a trabalhar em seu novo emprego, sua inteligência, esforço dedicação e profissionalismo. Amava a força, companhia e paz que você me passava mesmo nos momentos mais difíceis que tivemos. Mas hoje entendo que o amor nunca é o suficiente e que em um relacionamento um sempre ama mais que o outro e o que ama mais sempre está em desvantagem.
Eu poderia esperar tudo de você, menos traição. Você sabe minha opinião sobre isso. Sabe o que eu acredito que acontece com traidores. A traição é pior para alma que o suicídio. Quando você se suicida é porque a dor e a desesperança venceram, é um ato de sofrimento extremo.
Mas para traição não existe explicação ou justificativa, desde a primeira troca de olhares você sabe que está errado. Um alarme grita em sua cabeça, mas você escolhe ignorar. Aí vem as mensagens, os encontros, as mentiras, a dissimulação e a cada passo o alarme berrando, está errado, está errado e você por puro orgulho e egoísmo o ignora.
A traição é quando o “EU” suplanta tudo e todos, a família, os filhos, o respeito, a dignidade, tudo fica em segundo plano. Tudo o que você quer é satisfazer sua necessidade sexual, seu desejo, seu prazer. Sabe que mesmo que venha a ser descoberto o traído é que vai virar motivo de chacota, piada, vai ser chamado de corno, chifrudo, etc. Já o traído vai ser enaltecido como o esperto, o malandro. Tem tanta certeza disso que utiliza dos dois sentimentos mais puros que a humanidade tem, como arma contra o traído. O Amor que ele sente por você e a confiança. E isso é algo tão grave, que quando você trai, você literalmente cria uma “Horcrux”, você parte sua alma, cria um buraco nela.
Fica calado uns segundos olhando para baixo e então prossegue.
O que mais você quer saber Marta? Se te perdoo?
Agora quem não conseguia olhar para ele era eu e tudo que eu queria era que ele parasse de falar. Hoje entendo que deveria apenas ter assinado aqueles papéis e ido embora.
Mas ele para um pouco, pensa, respira fundo e prossegue.
Hoje ainda não, pois dói muito ainda, mas sim, Marta, sei que um dia irei lhe perdoar e tanto eu como você sairemos mais fortes dessa situação. Não lhe desejo o mal, sei que cometemos erros, que ninguém é perfeito, mas se existe algo que também sei sobre mim é nunca mais em minha vida vou poder tocar em você, beija-la, sabendo o que outro homem fez isso enquanto erámos casados. Nunca mais poderei confiar me você.
Então se algum dia a mulher pela qual eu me apaixonei, descente, honesta, e que me amava e que acreditei que ficaria o resto de minha vida junto existiu, peço... não, suplico, que assine esses papéis para que eu possa encerrar esse capítulo de minha vida.
Bom, não preciso descrever o clima na sala. Minha advogada chorava, a juíza chorava, a escrivã chorava até o advogado dele tentava esconder as lágrimas.
Eu peguei aquela caneta tremendo, assinei não sei nem como e saí correndo.
Ali foi a primeira vez que percebi o mal que eu havia feito a ele. O quanto eu tinha sido egoísta. Confesso que nunca tinha pensado em como isso havia afetado ele. Entender toda a dor que causei a quem eu amava me mudou profundamente. Entendi as palavras da Ana, em chegar ao topo e estar só. A felicidade tem que ser compartilhada se não, não é felicidade.
Dois anos se passaram e nunca mais tive contato com meu ex-marido. Nem uma notícia, nada. Um dia Ana entra em minha sala, senta na cadeira em frente minha mesa com um sorriso que nunca tinha visto antes. Falei intrigada.
- Nossa, que felicidade toda é essa?
- Então meu amor, hoje venho dizer que estou deixando a presidência da empresa e queria comunicar isso pessoalmente a você.
Confesso que levei um susto.
- Então é verdade. Achei que fosse radio pião, fofoca dos bastidores.
Ela começou a rir.
- É nada fica escondido mesmo. Mas sim, formalizei minha saída, o meu sucessor é um homem muito responsável e competente e me garantiu que não fará mudanças na diretoria você pode ficar despreocupada. Ele sabe de sua competência e profissionalismo.
- Fico muito orgulhosa, isso vindo de você. Mas e agora vai fazer o que dá vida?
-Vou viver. Lembra que disse uma vez que se pudesse faria opções diferentes em relação minha vida pessoal? Então vou atrás da minha felicidade. Já é hora, espero que ainda de tempo.
Ela ficou quieta e me olhou estranhamente como se sentisse culpada ou sei lá, então disse.
- Você sabe que é como uma irmã para mim, não sabe?
- Claro que sei e sempre serei grata a você por tudo.
Levantei fui até ela, nos abraçamos forte choramos e ela deixou minha sala.
Mais dois anos se passaram. Afinal a vida continua. Continuei sem notícias de meu ex-marido. Tive alguns relacionamentos, mas nada sério, que valesse a pena. Uma tarde estava tranquila em minha sala quando dona Célia, esposa do diretor de manufatura, entra em minha sala. Ela era grande amiga de Ana e nos tornamos amigas por isso.
- Marta meu amor, estava passando e não poderia vir aqui sem lhe dar um beijo.
- Dona Célia que maravilha, quanto tempo.
Conversamos amenidades durante um tempo então ela se levanta para ir saindo, mas antes ela pergunta.
- Sabe quem foi na minha casa semana passada jantar? A Ana. – sorrido.
- Nossa, faz ano que não falo com ela, desde que ela deixou a empresa. Achei que ela estivesse no exterior.
- Não. Está casada e tem uma filhinha coisa mais linda. Tem uns sete meses acho. Beatriz é o seu nome.
Levei um susto em ouvir aquilo, Ana casada e com uma filha. Ela nunca mais falou comigo desde que deixou a empresa. Porque será que ela não me contou.
- A Ana casada e com filho, quem diria!
- E você sabe, ela sempre foi uma mulher muito bonita, mas agora está linda, não, radiante é a palavra certa, a felicidade resplandece nela. Nunca tinha visto ela tão feliz.
Nisso dona Célia percebe em cima da minha mesa um porta retrato onde tinha uma foto em que eu, Ana e Arthur estávamos abraçados, tirada em um dos churrasco em nossa antiga casa. Ela segura a foto mais perto, coloca os óculos, para ver melhor.
- A Ana já era casada quando trabalhava aqui?
- O que? Não, claro que não.
- Ué, mas esse é o marido da Ana, o Arthur.
Apontado para a foto.
Minhas pernas tremeram. Pensei, não acredito nisso, foi por isso que nunca mais ouvi falar da Ana. Ela estava atrás do meu marido. O Arthur tentou me avisar aquele dia e eu fiz piada. Me controlei e falei.
- A senhora tem certeza?
- Marta sou velha, mas sei reconhecer um homem charmoso quando vejo. – rindo.
- Dona Célia a senhora tem o endereço da Ana, quero passar para ver a filhinha dela, faz anos que não a vejo?
- Claro Marta, aqui está.
Na manhã seguinte estava eu parada na porta de uma casa de dois andares, linda, com um gramado incrível, janelas grandes. Toco a campainha e um tempo depois a empregada aparece.
- Bom dia, posso ajudar.
- Oi sou uma antiga amiga da Ana, ela está?
Nisso olho para a escada que levava ao andar de cima e Ana descia carregando no colo um bebê. Ela me viu, parou na escada assustada e falou para empregada.
- Obrigada Joana, eu atendo.
Ao vê-la meu sangue ferveu, ela realmente estava linda.
Ela entrega a menina para a empregada, respirava fundo, caminha até a porta, olha fixamente em meus olhos e antes que eu pudesse dizer ou fazer qualquer coisa me abraça forte e começa a chorar de soluçar.
Confesso que aquilo quebrou minhas pernas, nada aconteceu como eu tinha esperado. Pensei em mil e uma coisas que diria a ela, como ela era uma cobra traidora, enganadora, hipócrita, destruidora de lares, imaginei eu esbofeteando a cara dela, xingando, gritando, mas na verdade a única coisa que consegui fazer foi a chorar abraçada a ela.
Fomos até a sala e ela começou a fala.
- Me perdoe, eu queria te contar eu juro. Falei com o Arthur, briguei, voltei a falar em te contar, que não era certo, não era justo, mas ele disse que você não entenderia e que isso iria me machucar e machucar você. Juro que nunca tivemos nada enquanto vocês estavam casados. Você tem que acreditar em mim.
Respirei fundo e disse.
- Uma semana antes do fatídico dia da minha traição, no churrasco lá em casa, o Arthur tentou me dizer que você deu em cima dele, que tentou até beija-lo?
Ela ficou encabulada, olhou para o chão envergonhada.
- É verdade. Mas ele, sendo o Arthur, disse que não queria nada comigo, que te amava e eu então compreendi o homem integro que ele era. Mas também tenho que confessar para você que estava apaixonada por ele. Sabia qual era o meu lugar. Nunca fui atras dele, mesmo após o divórcio de vocês, ele é que me procurou dois anos depois, então começamos a sair. Marta eu nunca quis te magoar, mas eu amo realmente ele e ele me ama e por mais que eu te considere uma irmã, não vou desistir de minha felicidade novamente. – olhando séria e decidida para mim.
Eu sei que o que vou dizer agora vai parecer hipocrisia, fantasia ou besteira, mas não sei exatamente porque, mas, aquilo me tranquilizou, foi como tirar um peso de meus ombros. Eu sofria todos aqueles anos me culpando por ter feito Arthur sofrer tanto e por isso me privava de tentar ser feliz novamente.
Agora que via que ele estava casado feliz,que ele conseguiu reconstruir sua vida, isso foi para mim um encerramento. Sabia que dali em diante eu poderia seguir minha vida sem culpa. Estava livre para procurar a felicidade também. E saber que ele estava com a única mulher no mundo que eu sabia que seria perfeita para ele me deixava ainda mais feliz. Chorando falei.
- Eu senti tanto sua falta, falta da minha irmã mais velha. Nunca mais suma.
Nos abramos chorando. Quando finalmente paramos de chorar disse.
- Agora quero conhecer sua bebê.
- Beatriz é o nome dela.
Passei o resto do dia com elas e no final da tarde Arthur chegou. Ao me ver ele abriu um sorriso vendo que estávamos bem, eu com bebê no colo. Jantamos juntos. Mais tarde Ana foi levar Beatriz para dormir fiquei na sala com Arthur. Estávamos em paz. Ele falou.
- Que bom que vocês se acertaram. Ana sente muito a sua falta. Ela sofreu bastante com o afastamento. A culpa foi minha dela não te contar. Desculpe.
- Ela me disse. Sem problema. Mudei muito nesses anos. A vida é um professor severo, mas competente.
- Não batizamos a Beatriz ainda. A Ana não permitiu.
- Ué, porque?
- Ela quer que você seja madrinha. O que você me diz?
- Tudo bem para você?
- Nada me deixaria mais feliz.
Comecei a chorar e aceite.
Dois anos se passaram e hoje é o dia de meu casamento. Encontrei finalmente um amor sei que não cometerei os mesmos erros. Meus padrinhos são Ana e Arthur e como daminha de honra, minha afiliada Beatriz.
Apesar de ser um desabafo espero que esse relato sirva para que outras mulheres não cometam os mesmos erros que eu. Eu tive muita sorte, a vida me deu outra chance. Não desperdicem as suas.
submitted by brunkowmark to EscritoresBrasil [link] [comments]


2022.09.24 16:14 StudioOnly222 Biografía Courtney Jines

Courtney Jines inicio su carrera de actriz a la edad de 6 años. Hizo su primera aparición en televisión en el 2000, en el episodio "Demolition Derby" de la serie de televisión Third Watch como Lisa Hagonon. Su primer papel en una película fue como Harriet Deal en Drop Back Ten (2000) y Hannah Miller, en la serie policial Ley y Orden: Unidad de Víctimas Especiales, en el episodio llamado "Pixies" en 2001. Además, interpretó a Delilah en "Las tarde de Gaudí" (2001) y como Jessica Trent en CSI: Crime Scene 1 2 3 4) 5 6 7 8 9 10 11 12) 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34) 35 36 37) 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78) 79 80 81 82 83 84 85 86 87) 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113) 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133) 134 135 136 137 138) 139) 140 141) 142 143 144 145) 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170) 171 172 173 174 175) 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192) 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204) 205 206 207) 208 209 210 211 212) 213 214 215 216) 217 218 219 220 221 222 223 224) 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242) 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252) 253 254 255) 256 257 258 259 260 261 262 263 264) 265) 266) 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278) 279 280 281 282 283 284 285) 286 287 288 289) 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307) 308 309 310 311) 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321) 322 323) 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333) 334) 335 336 337) 338 339 340 341 342 343 344 345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364 365 366 367) 368 369 370 371 372 373 374 375 376 377 378 379) 380 381 382 383 384 385 386) 387 388 389 390 391 392) 393 394 395 396 397 398 399 400) 401) 402 403 404) 405 406) 407 408 409 410 411 412 413 414 415 416 417 418 419 420 421 422 423 424) 425 426 427 428 429) 430 431 432) 433 434 435 436 437) 438 439) 440 441 442 443 444) 445) 446) 447 448 449 450 451) 452) 453 454) 455 456) 457 458 459 460_2019) 461 462 463 464) 465 466 467 468) 469 470 471 472 473 474 475 476 477 478 479 480 481) 482 483) 484 485 486 487 488 489 490 491) 492 493 494 495 496 497 498 499
submitted by StudioOnly222 to Rang_Cong_Only [link] [comments]


2022.06.22 08:42 LithuanianAerospace Besides Joana Benedek, are there any other famous Romanian Latin Americans?

submitted by LithuanianAerospace to asklatinamerica [link] [comments]


2021.03.01 01:56 verissimoallan This week was the 20th anniversary of "Amigas y Rivales".

"Amigas y Rivales" (English: Friends and Rivals) is a Mexican juvenile telenovela produced by Emilio Larrosa for Televisa in 2001.
Canal de las Estrellas started broadcasting this telenovela on Monday, February 26, 2001, at 7:00pm, and the last episode was broadcast on Friday, November 9, 2001.
The cast includes Ludwika Paleta, Michelle Vieth, Angélica Vale, Adamari López, Arath de la Torre, Gabriel Soto, Rodrigo Vidal, Johnny Lozada, Joana Benedek, Eric del Castillo, Chela Castro, Rafael Inclán, Manuela Imaz, Elías Chiprout and Christina Pastor.
submitted by verissimoallan to AmigasYRivalesNovela [link] [comments]


2020.09.09 21:45 hericuzaa Ciúmes.

Eu tenho uma amiga de infância, ela é quase uma irmã pra mim, tivemos diversos bons e inesquecíveis momentos juntas, porém eu tenho uma outra amiga, que eu conheça a bem menos tempo e não temos tantas experiencias. E, bem, de uns dias pra cá o clima ficou pesado entre nós... A alguns anos, no meu aniversario de 11 eu acho, descobrimos que nós três formávamos um trio incrível. E desde então elas duas são amigas, porém como é de se imaginar, uma delas, a de infância (chamaremos de joana) começou a demonstrar ciumes ao extremo, eu sempre achei que era zueira, que ela fazia pra gente rir, e nunca levei a sério, até pq ela estava cansada de saber que eu amava as duas iguais, que eu amava muito as duas. Hoje a joana descobriu que eu e a outra não fizemos metade das coisas que já fiz com joana. Ela me chama no privado e começa a se "exibir". Eu (irritada já com as atitudes de ciumes dela, que pareciam menosprezar minha outra amiga) disse que eu já tive muitos outros momentos felizes com a outra, mesmo não sendo tantos, eram significantes para mim. Ela por algum motivo, a joana se magoou, mandou um texto dizendo que eu não sentia por ela o mesmo que ela sentia por mim, e falando que ela era indiferente para mim. Isso acabou cmg. Eu amo ela dms, e eu expliquei pra ela. Mas agora a joana me odeia e odeia a minha outra amiga. Socorro, eu não sei com agir. Estou acabada.
submitted by hericuzaa to desabafos [link] [comments]


2018.11.19 07:48 josimar_oliva Cama da mãe

O celular desperta mais uma vez. Seis e meia da manhã. Sempre coloco na função soneca para tentar dormir mais uns minutinhos. Na segunda vez que o celular desperta aquela música de alegria eu dou um pulo da cama e vou direto para o banheiro escovar os dentes e trocar de roupa enquanto a água do café ferve. Depois gasto quinze minutos para chegar ao trabalho de bicicleta. Ando igual louco por entre os carros com o fone ouvindo grudado nos tímpanos tocando My Blood Valentine no talo. Chego desnorteado na empresa e só penso em bater o cartão. Sempre chego atrasado mas não me importo com a cara feia do encarregado. Sou terceirizado e não devo nada para essa merda de empresa. Sei que provavelmente serei mandado embora depois da experiência mesmo. Mas dessa vez o encarregado me deu um esporro na frente de todo mundo e disse que se eu me atrasasse outra vez, era para ir direto para o RH da terceirizada. Como um bom gado que precisa de trabalho, apenas acenei com a cabeça e disse que não aconteceria novamente.
Quando cheguei em casa a noite minha mãe estava limpando meu quarto. — Meu filho, que bagunça é essa? Você tá ficando relaxado. Tu não era assim. — Embora não fosse, minha mãe sempre me tratou como filho único. Ainda mais quando saí de casa para morar sozinho. Ela todo dia vinha aqui ver se eu tinha almoçado, se eu já tinha lavado minhas roupas e etc, essas coisas que mãe faz. Depois de tanto tempo desempregado minha mãe não queria que eu perdesse aquele trampo. — Tá foda, mãe. Todo dia tem que fazer hora extra. (Hora extra essa que vai para o banco de horas). Hoje quase que fui para o RH porque me atrasei de novo. Esse celular sempre me deixa na mão (Miiintiiira! Eu que sempre quero dormir mais um pouco e não escuto o celular despertar). — Respondi de dentro banheiro enquanto tirava a roupa e jogava no chão. — Por isso eu não confio nessas tecnologia nova. Não dispenso meu rádio relógio. Todo dia ele desperta seis horas da manhã tocando na primeira oração do Davi Miranda. — Minha mãe respondeu enquanto entrava no banheiro pra catar minhas roupas sujas. — Ouh mãe! To cagando! — Eu respondi sentado na privada segurando o celular. — Deixa de besteira menino! Quantas vezes já limpei esse teu cu preto?
— Amanhã eu vou trazer um relógio de corda que era da tua vó. Ele nunca falha. Só precisa levar no relojoeiro pra acertar ele. — Respondi minha mãe apenas com um “ahã” enquanto via um vídeo de gatinho na tela do celular. — Tô indo meu filho, deixei a janta no micro-ondas, tá? — Respondi com outro “ahã” — Fui. Beijo. — Ela disse indo embora. Só ouvi a porta da kit-net batendo.
No outro dia de manhã acordei com cheiro de café antes do celular despertar. Minha mãe estava lá na pequena cozinha olhando a água preta com pó de café subir com a fervura. Antes de derramar o líquido ela desligou e passou o café pelo coador de pano. Levantei mal humorado como sempre e nem olhei pra ela. Fui direto para o banheiro. Voltei, tomei café enquanto ela arrumava a hora do relógio vermelho de corda que era da minha vó. Era bem antigão. Chega tinha aqueles dois sininhos em cima. — Pronto, agora você não vai perder mais a hora com esse aqui. — Ela disse colocando o relógio em cima do criado-mudo ao lado da minha cama. Fui para o trabalho no galpão logístico. Era a primeira vez que eu chegava antes do sinal de bater o cartão apitar. Era dureza puxar aqueles paletes com mais de uma tonelada pra cima e para baixo dos corredores com aquela empilhadeira manual que não recebia uma gota de lubrificante a décadas. Meu corpo doía mas de certa forma eu estava feliz. A quanto tempo eu não sabia o que era ter emprego? A quanto tempo eu não sabia o que era ter dignidade? A noite voltei pra casa e minha mãe estava lá no meu barraco de novo. — Cade suas roupas sujas, meu filho? — Disse ela logo quando eu cheguei. — Mãe deixa minhas roupas aí. Eu sei me virar. — Eu disse um pouco ríspido. Ela saiu meio cabisbaixa com a roupa na mão. Eu fiquei meio estranho mas eu estava tão cansado que nem percebi que eu a tinha magoado.
No outro dia acordei com um barulho ensurdecedor de metal batendo como se fosse uma bateria de black metal extremo tocando num show de horrores do inferno. — Caralho, como desliga essa merda? — Fiquei uns cinco minutos tentando desligar aquela peste barulhenta. Minha cabeça chega começou a doer com aquele TRIIIIIIIMMMM maldito. Novamente minha mãe estava na cozinha passando o café. Passei por ela muito puto porque ela colocou o bicho para despertar mais cedo do que eu colocaria. Estava tão raivoso que nem tomei café e nem respondi ao bom dia que ela me deu. Peguei minha Poti azul e saiu com o fone de ouvido dentro do meu cérebro em direção ao galpão.
Chegando lá, mais um dia de empurra e puxa carrinho quebrado pra cima e pra baixo. Aquelas rodas de silicone estavam só o pó da rabiola. As vezes emperravam quando tinha muito peso em cima da palheteira. Então eu tinha todo um trabalho de buscar outro palhete, colocar metade dos produtos nele, levar o palhete com metade dos produtos para a carregar no caminhão, depois voltar e buscar o outro palhete com a outra metade dos produtos. Conclusão: eu não conseguia fazer metade da meta de produção que era imposta para nós fazer durante o dia. No fim do dia, o encarregado veio me chamar atenção do porque meus caminhões estavam demorando a ser carregados. Eu disse que era por causa da palheteira que estava ruim mais ele nem quis saber e disse que não era problema dele pois os equipamentos também eram da terceirizada. Saí puto demais batendo pé sobre pé com a aquela bota com bico de aço que apertava meus pés. Chegando em casa novamente minha mãe estava lá caçando alguma coisa que eu não sei. Dessa vez fui muito grosseiro com ela. — Ouh mãe, dá licença! To cansado porra! Dá um tempo! Você não tem mais o que fazer não? — Eu vi os olhos dela encherem de lágrimas. O arrependimento bateu na mesma hora mas já era tarde. Ela largou a roupa no chão, montou na bicicleta dela e saiu fora.
Só consegui dormi um pouco antes de amanhecer. Fiquei metade da noite vendo vídeos no ̶x̶v̶i̶d̶e̶o̶s̶ youtube e a outra metade da noite pensando sobre minha promessa de nunca pedir desculpas pra ninguém. Desculpas não muda o fato ocorrido. Sempre achei um desperdício chorar e pedir desculpas. Nem lembro a última vez que chorei. Então quando peguei no sono, sonhei que estava na beira de uma piscina tomando uma cerveja e com vontade de mijar mas não queria sair porque eu estava olhando a gordinha do RH de fio dental no outro lado da piscina pegando sol naquela bunda maravilhosa. Resolvi atravessar a piscina para ir falar com ela mas quando eu estava no meio da água ouvi um raio batendo na água e fazendo um barulho ensurdecedor: TRIIIIIIIIIIIMMMMM!!! Ah não! Era aquele maldito relógio de novo. Peguei aquela porcaria e taquei com todo o ódio do mundo na parede. PLAAAAU! Virou mil. Minha mãe que estava novamente na cozinha fazendo café entrou no quartinho como as lágrimas rolando pelo rosto e pegou o que sobrou do relógio da mãe dela. Agora acho que fui longe demais. Ela foi embora deixando a água com café fervendo no fogão que logo derramou e apagou o fogo.
Já tinha uma semana que ela não voltava lá em casa. Mas eu não ia dar o braço a torcer e pedir desculpas. “Tu é homem ou é um rato?” meu pai diria. Homem não pede desculpas. Fez tá feito. É o que ele também diria. Aquele dia cheguei atrasado no galpão logístico novamente. Eu me aproximava da roda de reunião quando o encarregado olhou para mim e disse na frente de todos — Você tá achando que aqui é casa mãe Joana pra chegar a hora que tu quer? Hein meu patrãozinho? Pode ir se virando lá com a terceirizada que eu não quero gente preguiçosa aqui na minha equipe não. — Os caras todos riram e eu saiu puto e de cabeça baixa. A gordinha do RH já me esperava com a rescisão na mão. Jesus, eu nunca vou esquecer daquele bundão.
Saí da empresa devastado. Montei na bicicleta fui pedalando por entre os carros, ônibus, caminhão. Minha cabeça doía. Acho que a dor era mais pela humilhação. Não consegui pensar em lugar nenhum para ir. Minhas pernas me levaram onde sempre vamos quando estamos mal. Fui pra casa da mãe do mesmo modo que quando era criança e ficava doente ia direto para a cama dela. Cheguei lá e a mãe estava no sofá fazendo crochê. Ela me olhou e pareceu que já sabia de tudo. Eu me agachei e chorei no seu colo. Chorei. Chorei, chorei, chorei alto e largado que nem criança. Que alívio! Quanto tempo eu não chorava? — Mãe, a senhora me desculpa por ter quebrado o relógio da vó? — Eu disse com o nariz todo catarrento escorrendo. — Claro meu filho. — Ela disse com uma voz doce. — E eu também fui mandado embora, mãe. Que que eu vou fazer agora? Não consigo parar em emprego nenhum. — Eu disse explodindo em lágrimas novamente. — Calma, meu filho. Deus vai dar um jeito. Deus vai dar um jeito.
submitted by josimar_oliva to rapidinhapoetica [link] [comments]


http://swiebodzin.info